O ataque ao Ibama pode ser o início de uma piora das relações na Amazônia e um sinal de que a situação está saindo do controle. Esta é a opinião de organizações não governamentais que atuam na Amazônia e creditam à política ambiental de Brasília a escalada da violência.
“A edição das medidas provisórias que reduzem áreas protegidas e regularizam a grilagem está na raiz desse problema. É uma irresponsabilidade do governo editar uma MP para diminuir floresta em uma região que é extremamente violenta. Ali sempre teve atividade ilegal, mas esses sinais de Brasília acabam potencializando. Parece que os crimes estão fora de controle, os criminosos perderam o medo do Estado”, disse Márcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace.
“É um sintoma dramático da forma como o governo e o Congresso estão lidando com a legislação ambiental. O ambiente do Brasil está sendo rifado e acho que vamos ver acirramento dos ânimos e aumento da violência dos dois lados”, comentou André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
Nos últimos dias, a BR-163, onde ocorreu o ataque às viaturas do Ibama, tem sofrido bloqueios diários por parte de produtores rurais que pedem o envio ao Congresso de projeto de lei que reduza a área da Floresta Nacional de Jamanxim, à margem esquerda da rodovia. A unidade de conservação era objeto da Medida Provisória 756, vetada pelo presidente Michel Temer em 19 de junho. Novos bloqueios na região estão previstos para hoje.
Um dia antes do veto, em um vídeo ao lado do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, anunciou que a polêmica MP, que reduziria a floresta em 480 mil hectares, seria vetada e um projeto de lei seria enviado ao Congresso nos mesmos termos no dia seguinte. Dias depois, porém, ele disse que o PL só seria enviado após parecer técnico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Para o deputado José Benito Priante (PMDB-PA), que foi relator da MP 756 no Congresso, isso causou incerteza e insatisfação na região. “Havia uma expectativa muito forte de que viria o PL com os limites para que pudéssemos votar. Mas o que chegou foi muito helicóptero e carro do Ibama na região”, afirmou ao Estado.
“Não posso aplaudir esse tipo de conduta (a queima dos carros). Tenho certeza de que não é do movimento que quer uma solução em Jamanxim. Eles estão profundamente aflitos com esse episódio, não querem ser vistos como autores. Sou contra os incendiários, mas não dá para o Ibama chegar lá e queimar máquinas. Isso pode causar revolta e temo por um conflito mais grave na região”, afirmou.
O Ministério do Meio Ambiente disse que somente o Ibama iria se manifestar sobre o caso. O órgão não comentou as críticas.