O Ártico é o epicentro da crise climática mundial, com aquecimento duas vezes mais acelerado do que no resto do planeta. Em 2020, a região igualou o recorde de maior degelo durante o verão. A organização Pristine Seas, ligada à National Geographic, escolheu a área para ser tema de Ártico Ameaçado, filmado durante quatro anos. O documentário, exibido neste sábado, às 22h30, no canal, faz parte da programação do Dia Mundial contra Mudanças Climáticas, também composta por Greta: O Futuro É Hoje, sobre a ativista sueca Greta Thunberg, às 21h, e Mares Intocados, com outras expedições da Pristine Seas, às 21h45.
Não à toa, o filme começa com uma imagem da vasta paisagem gelada e o som de uma rachadura. A equipe do diretor Scott Ressler precisou de paciência para captar as cenas do documentário. "No Ártico, o tempo é quem manda", disse ele em evento para a imprensa. "Não dá para planejar. Nas duas primeiras semanas, ficamos esperando enquanto um nevoeiro intenso impedia qualquer filmagem. Foi desolador. Mas depois o gelo começou a derreter, dando início a um processo natural incrível, com o mar aumentando de volume, os animais caçando. Tivemos duas ou três semanas de oportunidades de filmagem incríveis. Mas espero que não sejam apenas imagens bonitas de olhar e, sim, que mostrem o que está em jogo nessa região tão preciosa e frágil."
O degelo no verão é normal no Ártico. O problema é que regiões que sempre continuaram geladas mesmo na época mais quente do ano estão sob risco de derretimento, abrindo espaço para a exploração de rotas marítimas, turismo, pesca e extração de petróleo. Até 2040, a previsão é a de que todo o Ártico descongele no verão, a não ser a pequena área de Pikialasorsuaq, que fica entre o Canadá e a Groenlândia e é conhecida como "último gelo". É uma das regiões de maior biodiversidade do Ártico, além de lar de comunidades Inuits, que vivem de caça e pesca artesanais. "Quando chegamos ao Ártico, vimos a relação íntima entre o que está acontecendo no ecossistema e os humanos que dependem dele", disse em entrevista ao <b>Estadão</b> Alex Muñoz, diretor de políticas para a América Latina da Pristine Seas. "O que está ocorrendo no planeta é culpa da humanidade. Infelizmente, os impactos não são iguais.
Os mais pobres e vulneráveis e as comunidades locais sofrem as consequências dessa irresponsabilidade em grau muito mais elevado. Então, nós precisamos ficar ao lado de quem está sofrendo mais com esses problemas climáticos criados com o crescimento desenfreado de certas atividades."
O documentário mostra a luta dos Inuits para conseguir um compromisso dos governos do Canadá e da Groenlândia de proteger a área. "A crise climática afeta nosso cotidiano", explica a ativista Maatalii Okalik. Ártico Ameaçado também evita um olhar colonizado, mostrando a relação próxima dos caçadores com a natureza dos caçadores e a riqueza da cultura Inuit, que está sendo recuperada pelas gerações mais novas. Mas também olha para o passado, para as políticas de deslocamento de populações empreendidas pelos governos do Canadá e da Dinamarca (a Groenlândia é um território autônomo do país), que concentraram famílias em locais predeterminados, às vezes a mais de 2 mil quilômetros de distância de sua região original. Muitos dos Inuits mais velhos foram separados de seus pais e obrigados a frequentar escolas para aprender a ser brancos. As medidas tomadas em décadas anteriores têm efeitos até hoje, não só em termos de trauma como de eliminação do modo de vida nômade, por exemplo.
Mas Ártico Ameaçado não olha para os povos tradicionais como vítimas sem capacidade de lutar por um futuro melhor. "São comunidades vibrantes que sabem viver em equilíbrio com a natureza e deveriam ser fonte de inspiração para o resto do mundo", disse Ressler.
Muñoz, que tem lutado para que políticas públicas sejam estabelecidas para lidar com a crise climática na América Latina, espera que o documentário ajude a informar mais pessoas sobre o que o planeta está passando. E ele aconselha como ajudar: "Eu encorajaria todos a descobrir quais as posições de candidatos a cargos públicos em relação ao meio ambiente. Se seu candidato negar a crise climática e ainda assim você votar nele, estará sendo cúmplice".
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>