Relatórios de produtividade da Polícia Federal indicam que o desempenho da superintendência da corporação no Rio de Janeiro em 2019 foi o melhor nos últimos três anos.
Os documentos foram obtidos nas investigações sobre suposta tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na PF para blindar aliados e familiares. O inquérito, aberto em abril após denúncias apresentadas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, está em estágio avançado, segundo a delegada Christiane Correa Machado, responsável pelo caso.
Os relatórios internos são elaborados mensalmente pela Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado a partir de indicadores sobre atividades operacionais e investigativas desenvolvidas nas 27 Superintendências Regionais da PF. São avaliados, por exemplo, desempenho em relação a organizações criminosas, tráfico de drogas e de armas, contrabando, lavagem de dinheiro, crimes contra direitos humanos e meio ambiente, entre outros.
Enquanto os melhores resultados obtidos pelo Rio em relação às demais regionais da PF nos anos de 2017 e 2018 foram, respectivamente, o 21º e o 8º lugares, em 2019 a superintendência fluminense conseguiu chegar ao 4º lugar, em julho.
Os resultados contrariam os argumentos de Bolsonaro para justificar a insistência na troca do comando da PF do Rio. A empreitada do presidente em nome da substituição do chefe da superintendência fluminense teve início em agosto de 2019, quando ele antecipou a saída do delegado Ricardo Saadi justificando que seria uma mudança por produtividade e que haveria problemas na unidade. Coincidentemente, no mês anterior ao anúncio, julho de 2019, a regional alcançou o melhor índice produtivo do último triênio.
Na época, Bolsonaro foi prontamente rebatido pela PF que, em nota, afirmou que a saída de Saadi não tinha relação com desempenho e indicou que novo superintendente do Rio seria Carlos Henrique Oliveira Sousa. Como revelou o <b>Estadão</b>, o nome de Sousa foi incluído na nota propositadamente para evitar uma indicação política da parte do presidente.
Saadi chegou a dizer, em depoimento no mês passado, que sua saída foi antecipada a pedido e sem justificativa clara. A exoneração provocou atritos entre Bolsonaro e o então ministro Sérgio Moro.
Em abril deste ano, em novo capítulo da queda de braço pelo comando da PF, desta vez em relação à Direção Geral, os dois romperam e Moro saiu do governo acusando o presidente de tentar interferir politicamente na corporação. Após as declarações do ex-ministro, foi aberto inquérito. O próximo passo das investigações é, nos próximos dias, ouvir o próprio Bolsonaro sobre as acusações.