Até então defendendo a votação mais célere possível, líderes da antiga oposição (PSDB, DEM e PSB) se juntaram ao Centrão (grupo de 12 partidos liderados por PP, PSD e PTB) e passaram a defender que o pedido de cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) só seja votado após a conclusão do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.
Com a unificação do discurso, praticamente todos os líderes da base aliada do presidente em exercício, Michel Temer, na Câmara passam a ter a mesma posição defendida pelo Palácio do Planalto nos bastidores. O temor é de que Cunha retalie membros do governo Michel Temer após ser cassado, o que pode vir a prejudicar a votação final do processo de impeachment de Dilma, prevista para o fim de agosto.
O discurso único foi acertado durante café da manhã nesta terça-feira, 9, entre o presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), e líderes do Centrão e da antiga oposição. O encontro ocorreu na residência oficial da presidência da Câmara. Foi a primeira reunião de Maia com líderes partidários no local, desde que ele pode usar a residência, após Cunha desocupar a moradia oficial, na semana passada.
“Ficou consensuado. A maioria concordou em ser depois do impeachment (de Dilma)”, afirmou o líder do PSB, deputado Paulo Folleto (ES). Ele afirma que é a favor de a votação ser realizada o mais rápido possível, mas acabou concordando com a maioria dos líderes. “Acho que é melhor deixar para depois do impeachment, por estratégia. Para evitar tumulto, evitar estresse”, afirmou o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM).
Avelino defende que o mais importante é que o presidente da Câmara marque logo a votação. “Minha sugestão é de que seja ainda em agosto, dia 30 ou 31”, afirmou. De acordo com o líder do DEM, Rodrigo Maia disse que ouviria outros líderes partidos – inclusive da oposição, que defende que ele paute o pedido de cassação o mais rápido possível – e prometeu anunciar a data da votação ainda nesta quarta-feira, 10.
O único líder da antiga oposição que diz ter se posicionado contra a maioria foi o do PPS, deputado Rubens Bueno (PR). “Não concordei. Coloquei a minha posição de continuar cobrando a votação o mais rápido possível”, afirmou o parlamentar paranaense. Ele disse ter sido o “único” das lideranças presentes a reafirmar que vai continuar cobrando em plenário que Maia faça a votação o mais célere possível.
Além de Bueno, Folleto e Pauderney, estavam presentes no café da manhã com o presidente da Câmara os líderes do PSDB, Antonio Imbassahy (BA); do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB); do PSD, Rogério Rosso (DF); do PMDB, Baleia Rossi (SP); e do Solidariedade, Genecias Noronha (CE). O líder do governo, deputado André Moura (PSC-SE), também compareceu e, segundo relatos, defendeu que a cassação fosse votada após o impeachment.
Tramitação
Nessa segunda-feira, 8, o parecer pela cassação do mandato de Eduardo Cunha aprovado pelo Conselho de Ética foi lido no plenário da Câmara. A leitura é a última etapa do processo, antes da votação em plenário. A partir dela, o pedido deve entrar como prioridade na pauta de votações do plenário em até duas sessões ordinárias, ou seja, a partir desta quarta-feira, 10. A prioridade, no entanto, não obriga que seja votado.
Aliados de Cunha e interlocutores do Palácio do Planalto na Câmara consideram inevitável a cassação do peemedebista, mas trabalham para que a votação do caso dele no plenário da Casa só aconteça após impeachment, para evitar que o deputado afastado dispare contra o governo Michel Temer como retaliação por ter sido cassado, prejudicando o processo de afastamento de Dilma.
Membro da chamada tropa de choque de Cunha, o deputado Carlos Marun (MS), vice-líder do governo e do PMDB na Câmara, defende que o ideal seria que a votação só ocorresse após as eleições municipais. Para ele, isso aumentaria as chances de Cunha se salvar, pois os deputados não temeriam os efeitos dos prejuízos políticos por ter votado abertamente favor de Cunha. “Se fosse voto secreto, ele não seria cassado”, diz.