Estadão

Antonio Nóbrega revisa a própria carreira no palco

Dos artistas que as ruas do Recife pariram com síntese e perfeição, Antonio Nóbrega não poderia deixar que uma revisão de si mesmo não fosse feita. O espetáculo que junta fragmentos de muitos de seus espetáculos iria para o palco em 2022, mas a pandemia não deixou. Agora, as mesmas efemérides serão usadas para colocá-lo em cena. De sexta, 17, até domingo, ele estará no palco do Sesc Belenzinho para celebrar muita coisa: são 70 anos mais um de vida, 50 mais um de carreira e 30 mais um de seu Instituto Brincante, uma incubadora cultural de excelência nos pulsos da Vila Madalena, em São Paulo. E, ainda que essa não seja oficial: são 40 anos do lançamento do álbum <i>Brincadeiras de Roda, Estórias e Canções de Ninar</i>, pela Gravadora Eldorado, seu primeiro projeto assim que chegou de Pernambuco, lançado em 1983.

"Meus shows já nascem com uma temática muito clara", diz, referindo-se a produções que estarão no show <i>Setenta + Um</i>, como <i>9 de Frevereiro</i>, <i>Na Pancada do Ganzá</i> e <i>Lunário Perpétuo</i>. Haverá lembranças do início, quando ele foi convidado por Ariano Suassuna para participar do Quinteto Armorial.

b>Como nas ruas, universo de Nóbrega une circo, música, dança, capoeira e teatro</b>

Do teatro para a dança, da dança para a música, de tudo para o circo. É assim, tratando o País que canta com a transversalidade que torna as artes inseparáveis, que Antonio Nóbrega se notabilizou desde sua chegada a São Paulo, nos anos 1980. Vê-lo em cena é banhar-se de um orgulho que precisa ser reavivado. Sua fala é direta, próxima e poderosa, e seu espaço transborda o próprio palco.

Nóbrega estará em família e, pela primeira vez, acompanhado pela junção de dois grupos. Até a tarde de ontem havia ingressos sendo vendidos apenas nas bilheterias do Sesc Belezinho.

Sua tropa de elite, com músicos que o acompanham há anos, é formada por Edmilson Capelupi (cordas), Cleber Almeida (bateria), Olivinho (sanfona) e Zezinho Pitoco (sax alto e zabumba). Seu filho Gabriel Nóbrega, que os fãs de Nóbrega viram crescer a cada espetáculo, tem um grupo que se juntou a eles. A banda Silibrina é formada pelo próprio Gabriel ao piano, com mais Franci Óliver (percussão), Reynaldo Izeppi (trompete), Ricardo Paraiso (baixo) e Wagner Barbosa (sax). A beleza de ver a família Nóbrega no palco se dá mais uma vez, com os dançarinos Rosane Almeida (mulher dele), Gabriel e a filha Maria Eugenia. A direção musical ficou mais uma vez com Edmilson Capelupi.

A passagem de Nóbrega pelo Quinteto Armorial, o grupo concebido por Ariano Suassuna para dar uma espécie de tratamento sinfônico à linguagem das ruas, foi definitiva na formação da essência do artista. De alguma forma, ele é sempre armorial. Ao tocar a excepcional Rasga do Nordeste no lançamento de seu álbum <i>Madeira Que Cupim Não Rói</i>, de 1997, em apresentação no Teatro Tuca, em São Paulo, Nóbrega, depois de ser aplaudido de pé, disse: "E ainda falam que o povo não gosta de música instrumental". Como Ariano havia mostrado, o instrumental que não habitava as salas de concerto (e ele sempre lembrava que o frevo era algo, em sua origem, também instrumental) poderia tocar as pessoas com muita profundidade.

<b>PREPARO FÍSICO</b>

Aos 71 anos, Nóbrega diz que as expressões físicas têm de ser adaptadas às limitações do tempo. Além de assumir o frevo e a capoeira como dois eixos importantes em suas apresentações, personagens como Tonheta exigem preparo.

"Não tenho mais os movimentos plenos que já tive, mas me preparo para tê-los por mais tempo possível. Há limites, claro, mas faço academia e tento ao menos retardar esse envelhecimento do corpo. As explosões são mais contidas, os pulos podem não ser mais tão altos."

Mas não são as acrobacias que marcam seu espetáculo. As emoções se dão com rapidez, assim que ele consegue colocar a plateia em seu universo. Um universo que estava logo ali, e não percebemos.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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