Mesmo em meio a um cenário de crédito escasso, a Eldorado Celulose tem planos ambiciosos de financiamentos até o fim do ano. Pretende fechar R$ 11 bilhões em contratos de empréstimos. Pouco mais da metade será usada para sua expansão em Mato Grosso do Sul e, o restante, para financiar sua operação atual.
Do total previsto, R$ 1,8 bilhão já está no caixa da companhia. A maior parte proveniente de bancos públicos – BNDES, Banco do Brasil e Caixa -, que estão financiando desde o comércio exterior da empresa até o plantio de florestas, com custo mais baixo que os bancos privados.
Dos recursos que ainda precisa neste ano para sua operação já em funcionamento, a empresa planeja emitir US$ 500 milhões (R$ 1,75 bilhão) em bônus para investidores estrangeiros, em sua primeira emissão de títulos externos. Deve ainda receber US$ 300 milhões (R$ 1 bilhão) de bancos de fora do País, que estão emprestando dinheiro junto com o Banco do Brasil, que já liberou US$ 100 milhões à empresa.
Apesar do volume de financiamento previsto, a expectativa é fechar 2016 com a alavancagem (índice que mede a relação das dívidas com o fluxo de caixa) em queda. Somente no ano que vem, quando começaria a entrar na empresa o dinheiro dos empréstimos para sua expansão, é que a alavancagem subiria, de acordo com o presidente da companhia, José Carlos Grubisich.
A alavancagem é um tema delicado para a empresa. Ao fim do primeiro trimestre, a dívida total somava cerca de R$ 9 bilhões, sendo R$ 2,6 bilhões com vencimento ainda neste ano.
Atualmente, a dívida da empresa é quatro vezes o tamanho do seu caixa, o que está no limite do aceitável, segundo alguns analistas. De qualquer forma, é um índice bem menor do que o de 14 vezes, número que a empresa registrava há cerca de três anos, quando se colocava em dúvida a capacidade da companhia em gerar valor para seus acionistas.
Na expectativa dos novos financiamentos que a Eldorado terá de tomar para sua expansão, alguns bancos privados estão rebaixando o rating da empresa de A para B em empréstimos de financiamento à exportação. Ou seja, o custo para a empresa tende a ficar mais caro nos bancos privados.
Custo
Enquanto, de um lado, as instituições privadas cobram caro, os bancos públicos têm oferecido preços melhores. Segundo levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, e confirmado pela companhia, as linhas de financiamento à exportação fornecidas pela Caixa, por exemplo, com prazo de 48 meses, custaram CDI mais 0,3% ao ano, o que hoje fica em 14,55% ao ano.
Outra linha, também da Caixa, com prazo de 12 meses, custou 4,4% ao ano. A título de comparação, uma linha no BTG Pactual, com prazo final de 13 meses, custou 18,25% ao ano (128% do CDI). A diferença, segundo Grubisich, se deve ao fato de que a linha no BTG é antiga e foi apenas uma renovação.
Do R$ 1,8 bilhão recebido nos últimos seis meses, R$ 450 milhões foram obtidos com a Caixa em linhas de financiamento à exportação. Outros R$ 400 milhões com o BTG Pactual. O banco Santander financiou R$ 240 milhões. O Banco do Brasil liberou R$ 350 milhões e o BNDES R$ 360 milhões, em uma linha especial para financiamento do plantio de novas florestas.
Acionistas
Tantos empréstimos chegam em um momento em que a situação da companhia está melhor do que há alguns anos. O fundo que é dono da companhia – o FIP Florestal, e que reúne a J&F, Petros e Funcef – saltou de um patrimônio de R$ 2 bilhões para R$ 6 bilhões no ano passado, em uma valorização de 200%.
A ascensão meteórica tem algumas explicações. Primeiro, o dólar, fundamental para o negócio de papel e celulose, chegou a valer R$ 4 no ano passado. Segundo, os preços do produto também melhoraram e as receitas da empresa cresceram. O resultado é que a Eldorado fechou 2015 com lucro de R$ 240 milhões, depois de amargar dois anos consecutivos de prejuízos que, acumulados, chegaram a quase R$ 1 bilhão.
No primeiro trimestre deste ano, as perdas voltaram a rondar a empresa, geradas principalmente pelas aplicações financeiras. Foram R$ 180 milhões no negativo. Mas, de acordo com Grubisich, para os próximos trimestres as perdas financeiras serão um fator neutro para os resultados.
Operacionalmente, a empresa dobrou seu lucro para R$ 580 milhões no primeiro trimestre.
No passado, os prejuízos acumulados e a alta alavancagem fizeram com que o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil se recusasse a comprar uma participação na empresa.
A avaliação, segundo fontes próximas da Previ, foi de que o negócio não se sustentava. Alguns banqueiros dizem que isso mudou desde o ano passado, quando o dólar saltou e a empresa otimizou sua operação logística. “Temos hoje o menor custo de produção do mundo”, resume Grubisich. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.