Estadão

Apesar do desemprego alto, falta gente habilitada para postos-chave

O Brasil vive um contrassenso: ao mesmo tempo que o País soma cerca de 10,6 milhões de desempregados, as empresas reclamam da dificuldade para conseguir preencher vagas essenciais devido à escassez de talentos com as habilidades necessárias. A leitura do mercado é de que o ritmo de mudança das empresas tem sido mais acelerado do que as instituições educacionais têm conseguido captar, afirma o presidente da XP Educação, Paulo de Tarso.

De acordo com o relatório Tendências de Gestão de Pessoas em 2022, da consultoria Great Place to Work, 68,3% dos 2.654 entrevistados afirmam que as organizações sentem dificuldade para contratar profissionais. Ainda segundo a pesquisa, entre as habilidades apontadas pelas empresas como as mais importantes estão a capacidade de resolver problemas complexos, de liderar e influenciar e de ser resiliente.

É nesse cenário que emerge o conceito employer U, criado pelo especialista em educação Brandon Busteed. "O futuro de toda a educação envolve o aprendizado integrado ao trabalho. Quando universidades e empregadores colaboram para o currículo, é, em geral, pedagogicamente mais sólido e relevante para a carreira", diz o diretor de parcerias e líder global de inovação do aprendizado do trabalho da Kaplan, empresa de serviço educacional.

A metodologia serviu de inspiração para a criação da Faculdade XP. "Queremos que a empresa seja o grande campo de prática dos alunos", diz Paulo de Tarso. Com foco na formação de talentos tanto para o quadro interno quanto para o mercado de trabalho, a iniciativa teve investimento de R$ 100 milhões e prevê cinco graduações em tecnologia de graça, além de cursos de pós-graduação e de curta duração pagos.

"O conceito employer U não é tão recente quando olhamos para outros benchmarks (referências), mas tem ficado mais forte por meio do setor de tecnologia devido ao desequilíbrio entre oferta e demanda de mão de obra", diz o executivo.

<b>PROBLEMAS REAIS</b>

De olho no problema, o Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli), em São Paulo, estreou em fevereiro deste ano quatro tipos de graduação na área de tecnologia. A faculdade, sem fins lucrativos, é fruto de idealização de sócios do banco BTG, incluindo Roberto Sallouti, e de doação de R$ 200 milhões da família de André Esteves. A aprendizagem é focada no desenvolvimento de competências criadas a partir de desafios propostos por parceiros de mercado, como Ambev, Hotel Urbano, Yamaha, Falconi e Faculdade de Medicina da USP.

"Ao longo de quatro anos, os alunos desenvolvem projetos para solucionar problemas reais das empresas, unindo a experiência acadêmica às demandas do mundo corporativo", conta a CEO do Inteli, Maíra Habimorad. No quarto ano, os estudantes escolhem entre três trilhas para definição do plano de carreira: empreendedora, acadêmica ou mercado.

O índice de contratação também é alto entre programas de formação com foco em jovens em situação de vulnerabilidade, tais como Programa Formare, CentroWEG e Alpha Edtech, os quais garantem, respectivamente ao final da capacitação, certificação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Instituto Alpha Lumen.

Cerca de 45 empresas em todo o Brasil, como 3M, LOréal, Siemens, Maxion, Suzano e Volkswagen, investem no Formare. A taxa de empregabilidade do programa é de 93% e 65% dos participantes ingressam em uma graduação posteriormente. Já a Weg, fabricante de motores elétricos, absorve 100% dos seus alunos, assim como a Alpha Edtech.

"O investimento das empresas em educação não é uma prática nova, mas vem crescendo e ficando cada vez mais abrangente e sofisticado", explica Marisa Eboli, especialista em educação corporativa e professora da FIA.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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