Deus ocupa um lugar de destaque na vida do neurocirurgião Ben Carson. O candidato republicano que lidera as pesquisas do partido atribui à intervenção divina grande parte do sucesso de sua trajetória pessoal e profissional. Antes de ser conhecido do grande público, ele já era popular entre os evangélicos brancos, um dos mais conservadores e influentes grupos do Partido Republicano.
O apoio dos religiosos explica em parte a ascensão de Carson, que na semana passada, derrubou o magnata Donald Trump da liderança da disputa pela vaga da legenda na eleição presidencial de 2016. Entre os republicanos, ele é o que mais se aproxima de Hillary, em um empate em 47%, segundo pesquisa Wall Street Journal/NBC News.
Único pré-candidato negro, Carson não atrai os eleitores afro-americanos, que votam em massa nos democratas. A maior parte de seu eleitorado é de brancos conservadores, atraídos pela proeminência que a religião tem em sua vida e por sua história de menino pobre que se transformou em neurocirurgião.
“Essa é uma imagem que os republicanos admiram. Tudo gira em torno do individualismo. Pessoas capazes de se rebelarem contra suas circunstâncias”, disse ao Estadão Melissa Deckman, professora do Washington College. Além disso, Carson nunca ocupou um cargo público, o que é bom na atual onda de rejeição a políticos tradicionais.
Os evangélicos brancos são 20% do eleitorado e quase metade dos que votam nas prévias republicanas. David Campbell, da Universidade de Notre Dame, diz que entre 12% e 14% dos eleitores são evangélicos brancos “ativos”. O porcentual é semelhante aos 11% de voto hispânico e aos 12% de voto negro, minorias fiéis aos democratas.
Membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, o apelo de Carson entre os evangélicos brancos vem da ênfase que ele dá à fé e de suas posições conservadoras. Ele condena o aborto, mesmo em casos de estupro e incesto, prega o criacionismo em vez da teoria da evolução, é contra o casamento gay e às restrições ao direito de porte de armas.
A “manutenção da fé” na sociedade americana é uma das propostas de Carson, que ressalta o fato de a Declaração da Independência dos EUA reconhecer “de maneira explícita” a existência do “Criador” e de o país ter sido fundado com base em princípios judaico-cristãos.
Apesar de ter assumido a ponta das pesquisas, suas posições extremas devem reduzir suas chances de vitória, avaliam Deckman e Campbell. “Assim que ele atrair mais atenção, ficará claro que suas posições destoam das posições dominantes na sociedade”, disse Deckman.
Com a base rebelada, os republicanos temem que a nomeação de um candidato não convencional favoreça os democratas. “É improvável que ele ganhe a indicação porque o establishment do partido ainda tem grande influência. Eles não acreditam que ele será um bom candidato nas eleições gerais”, ressaltou Campbell.
Carson já virou alvo do escrutínio da imprensa e de rivais. Na sexta-feira, sua campanha admitiu à revista Politico que era falsa uma parte de sua biografia – a de que ele havia recebido e recusado uma bolsa de estudos na academia militar de West Point.
Reportagem da CNN questionou o relato de que ele era agressivo na adolescência e tentou esfaquear um amigo. Carson apresenta o episódio como evento marcante de sua história de redenção pessoal, quando teria sido atendido em seu pedido a Deus para que o livrasse de seu mau temperamento.
Sua trajetória já seria incomum sem esses eventos. Em 1987, ele se tornou o primeiro neurocirurgião do mundo a realizar a separação de xifópagos unidos pela cabeça na qual os dois bebês sobreviveram. Filho de uma faxineira semianalfabeta, Carson foi durante 29 anos diretor de neurocirurgia pediátrica do Johns Hopkins Hospital, um dos mais respeitados dos EUA. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.