Após um dia de protestos em diferentes cidades do Rio Grande do Sul pelo parcelamento do salário de julho de 48% dos servidores estaduais, o governador José Ivo Sartori (PMDB) reuniu representantes do Legislativo e do Judiciário para tratar das finanças do Estado. O encontro, que durou cerca de três horas, culminou com uma breve entrevista coletiva de Sartori. A única medida anunciada foi a criação de um grupo técnico que irá buscar saídas para a crise gaúcha. O objetivo, segundo o governador, será “olhar toda a realidade financeira do Rio Grande do Sul e trabalhar para encontrar as alternativas que são necessárias”.
O comitê técnico terá a participação de dois nomes de cada órgão que estava presente no encontro de hoje – Executivo, Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça, Ministério Público, Defensoria Pública e Tribunal de Contas do Estado. Na coletiva, Sartori não respondeu a perguntas sobre a possibilidade de repetir o parcelamento no próximo mês, nem revelou como os demais poderes podem auxiliar no combate à crise. “Nós não podemos adentrar na vida dos outros poderes. Cada poder tem a sua legitimidade, cada instituição tem a sua autonomia”, afirmou. O governador tampouco comentou sobre o conjunto de propostas que deverá apresentar à Assembleia Legislativa ainda esta semana para combater a crise. O secretariado já admite que os projetos incluirão aumento de alíquota de ICMS e, possivelmente, a extinção e fusão de fundações públicas.
Esta foi a primeira entrevista de Sartori desde o anúncio do parcelamento na última sexta-feira, quando a tarefa de detalhar o calendário de pagamento ficou a cargo de um grupo de secretários. Naquele dia, o governador não atendeu a imprensa e preferiu fazer um pronunciamento à sociedade por meio de um vídeo publicado nas redes sociais.
Na entrevista desta segunda-feira à noite, o governador disse que as manifestações dos servidores são democráticas e voltou, mais uma vez, a pedir compreensão aos gaúchos. “Queremos que todos olhem e vejam que nós fizemos um esforço desde o primeiro dia de governo para mostrar esta realidade (financeira). Todo mundo aqui é testemunha de que nós em todos os momentos procuramos pelo menos pagar em dia (os salários). Desta vez não foi possível porque a realidade financeira não permite”, argumentou. “Espero que ninguém se desespere, que todos tenham serenidade de ter um comportamento adequado neste momento.”
Após um dia inteiro de protestos de trabalhadores e paralisações em muitas áreas, a maior parte das atividades deve ser retomada nesta terça-feira. Apesar da trégua, os servidores acenam com a possibilidade de convocar uma greve geral a partir do dia 18, quando a iniciativa será votada em assembleia geral de todos os sindicatos que representam o funcionalismo estadual. “Eu acredito que todo mundo vai pensar e olhar para o bem do Rio Grande”, disse Sartori sobre a possibilidade de greve. “Com solidariedade vamos trabalhar juntos, sem desespero, e sem afrontas, e sem provocações.”
Balanço
Chamada de “Dia da Indignação” pelos servidores, esta segunda-feira foi marcada por mobilizações em diversas cidades gaúchas, afetando serviços essenciais como segurança pública. Na capital, Porto Alegre, efetivos da Brigada Militar estavam a postos nas ruas, mas em número menor. A Polícia Civil também reduziu as atividades, e nas delegacias foram registrados apenas casos graves. Além disso, algumas escolas estaduais ficaram fechadas no período da manhã. Devido à diminuição do efetivo de policiais nas ruas, algumas agências bancárias também permaneceram fechadas por precaução. Nos transportes, os coletivos da Carris, uma das principais empresas de ônibus de Porto Alegre – que atende cerca de 300 mil pessoas por dia -, ficaram sem circular durante a manhã e boa parte da tarde.
As paralisações em muitos casos se estenderam a municípios do interior, e foram acompanhadas de protestos e passeatas. No final da manhã, representantes dos servidores estaduais foram recebidos pelo chefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul, Márcio Biolchi, mas a reunião não levou a nenhum acordo. Por isso, os setores prometem se reunir para tratar de uma possível greve geral no dia 18.
O governo anunciou o parcelamento na última sexta-feira, alegando o agravamento da crise financeiro. A linha de corte da primeira parcela, paga nesta sexta-feira, é de R$ 2.150 mil – isso significa que a totalidade dos servidores recebeu esta quantia. Uma segunda parcela no valor de R$ 1 mil será desembolsada até 13 de agosto. Os profissionais com vencimentos superiores a R$ 3,150 mil só receberão o restante em uma terceira parcela, que será quitada até 25 de agosto.