Estadão

Apuração no Peru termina com Castillo na frente; 0,7% dos votos serão reavaliados

A apuração do segundo turno da eleição no Peru terminou na noite desta quinta-feira, 10, com o candidato da esquerda radical Pedro Castillo com 50,2% dos votos contra 49,8% da conservadora Keiko Fujimori – uma diferença de 68 mil votos, ou 0,4 ponto porcentual.

O resultado final ainda não foi declarado pelo Escritório Nacional de Processos Eleitorais (Onpe, em espanhol), porque cerca de 0,7% dos votos serão reavaliados. Como a cédula, no Peru, é de papel, pode haver alguma rasura ou dado incorreto nesses votos. Pelo fato de a margem de Castillo ser muito estreita, uma mudança nesse porcentual ainda poderia alterar o resultado da eleição.

Agora, os delegados eleitorais do Onpe reavaliarão esses 0,7% cédulas com problemas, voto a voto, para determinar se eles podem ser computados ou não. Nessa categoria entram votos incompletos, sem dados, impugnados ou rasurados. Em paralelo, Keiko pede anulação de cerca de 200 mil votos, sob a alegação de fraudes. O primeiro pedido, na província de Cajamarca, foi invalidado por autoridades eleitorais.

A apuração levou quatro dias para ser concluída e os votos que garantem, por enquanto, a estreita margem de Castillo vieram de áreas rurais e andinas. Os votos do exterior, em sua maioria pró-Keiko, não foram suficientes para alterar a vantagem do esquerdista. Hoje, o Ministério Público do Peru pediu a prisão de Keiko, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, pediu sua prisão por violar medidas de liberdade condicional relativas aos processos que responde no desdobramento peruano da Operação Lava Jato.

O novo presidente assumirá um país em um momento político conturbado. Ao tomar posse em 28 de julho, será o quarto líder do Peru desde novembro. São necessárias medidas urgentes para superar a pandemia de covid-19, a recessão econômica e a instabilidade política no Peru. O eleito terá ainda de além de lidar com um Congresso fragmentado, corrupção e má gestão pública.

<b>Lava Jato e crise</b>

Nos últimos quatro anos, a Operação Lava Jato teve desdobramentos no Peru e as investigações levaram a prisão de três ex-presidentes – Alejandro Toledo, Ollanta Humala e Pedro Pablo Kuczynski, além da própria Keiko. A crise política paralela à operação levou à queda de PPK, eleito em 2016, além de seu sucessor, Martín Viscarra.

A divisão geográfica e de classe desta vez ficou evidente na votação de domingo. Fujimori conquistou a capital Lima e as áreas costeiras do norte, enquanto Castillo conquistou as regiões andinas mais rurais, incluindo os distritos mineiros do sul do país.

"O país está dividido ideologicamente em dois blocos", disse Jorge Montoya, deputado eleito pelo conservador Partido da Renovação Popular, em entrevista à TV na noite de domingo.

Caos sanitário, econômico e político
Um país de 32 milhões de habitantes, o Peru está lutando contra uma crise econômica mais profunda do que qualquer outra grande economia das Américas.

Quase 10% da população peruana está de volta para a pobreza após o início da pandemia. O impacto do coronavírus no país foi devastador. Na semana passada, o país anunciou que seu número de mortes por vírus foi quase o triplo do que havia sido relatado, elevando sua taxa de mortalidade per capita para a mais alta do mundo.

O sistema hospitalar ficou tão sobrecarregado pela pandemia que muitos morreram por falta de oxigênio, enquanto outros pagaram médicos por vagas em unidades de terapia intensiva – apenas para serem rejeitados em agonia.

"A pandemia mostrou que o problema subjacente era a ordem de prioridades", disse David Rivera, economista e cientista político peruano. "Supostamente, estávamos economizando dinheiro há muito tempo para usar em uma crise, e o que vimos durante a pandemia foi que a prioridade continuava a ser a estabilidade macroeconômica, e não impedir que as pessoas morressem e passassem fome". (com agências internacionais)

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