Mundo das Palavras

ARGENTINOS AINDA INQUIETOS

Confira coluna Alta Roda do jornalista especializada em indústria automobilística Fernando Calmon

O Salão do Automóvel de Buenos Aires, que se encerra dia 30, é
boa oportunidade de repassar o longo processo de integração das indústrias
automobilísticas dos dois países. Na verdade o livre comércio vem sendo
sucessivamente adiado. Último acordo previa 1º de julho deste ano para deixar
as fronteiras completamente livres, mas se dá como certo novo adiamento pelo
menos até o final de 2014.

Dependência da produção argentina do mercado brasileiro é
enorme: 90% de suas exportações vêm para cá. Também se deve considerar que,
hoje, 70% das exportações de veículos brasileiros destinam-se à Argentina. O
balanço em valores está equilibrado, pois enquanto o País envia modelos
compactos, traz veículos médios. Contra os argentinos pesam autopeças e
componentes: não há escala de produção. No final, carros brasileiros
representam pouco menos de 50% do mercado argentino, enquanto os automóveis
vizinhos, apenas 10% do nosso.

Este ano as vendas na Argentina crescerão pelo menos 10%
(Brasil, no máximo 4%) e arranharão as 900.000 unidades. Tal crescimento é
pouco saudável, pois se baseia na defesa dos compradores contra a inflação anual
real perto de 30%, ainda escamoteada pelo governo.

O VI Salão de Buenos Aires, realizado a cada dois anos,
mostra oferta mais variada de veículos importados, basicamente pelas mesmas
marcas aqui presentes. Chineses não têm muita vez por lá. Embora importadores
sem produção local tenham que exportar produtos locais para compensar dólares
gastos, Argentina tem custo logístico menor pela concentração da frota e
impostos inferiores. Por isso, nos estandes se veem tantos carros que não
chegarão ao Brasil, como Fiat Panda.

Estrearam modelos produzidos lá que, no máximo, em três meses
estarão no Brasil: Ford Focus (hatch e sedã) e Citroën C4 Lounge, sucessor do
sedã Pallas. Renault exibiu o novo Logan superequipado (típico de salão), que
sairá de São José dos Pinhais (PR), no último trimestre deste ano. Chevrolet
Tracker, SUV compacto produzido no México e pouco maior que o EcoSport, também
será importado, dividindo cotas com Sonic e Captiva mexicanos.

Toyota mostrou Etios ao público argentino, mas até o início
das vendas em outubro receberá alterações no painel e outras internas providenciadas
pela filial brasileira apenas um ano depois do lançamento. Nova geração do SUV
médio Kuga, que divide arquitetura com o Focus, deve ser produzida na Argentina
e exportada para cá, desde que a fábrica consiga divisas para trazer peças da
Espanha. Se confirmado, Toyota responderá com nacionalização do RAV4, já bem
encaminhada.

Entre os importados que logo estarão aqui, destaques para os
Nissans Sentra e Altima. Pequenos retoques no Renault Koleos, SUV médio sul-coreano,
estrearam em Buenos Aires. Pode vir ao Brasil, se sobrar cotas do Captur (SUV
compacto) e Mégane R.S.

Volkswagen apresentou aos argentinos o Golf VII, além do up!
e o conceitual Tiguan. No início, até a produção no Paraná, virá para cá o Golf
VII GTI importado da Alemanha. Subcompacto up! será diferente do alemão, pois
aqui terá interior e porta-malas maiores, além de janelas traseiras que podem
ser baixadas e não só basculadas.

 

RODA VIVA

 

SEGUNDA fábrica
que a Honda construirá no interior de São Paulo já tem dois produtos definidos,
baseados na nova arquitetura de compactos desenvolvidos para países emergentes,
ou seja, menos sofisticada. Um deles é o SUV já exibido como carro-conceito no
Salão de Detroit e o outro um hatch. Este nada terá a ver com o Brio fabricado
na Tailândia e na Índia.

MITSUBISHI iniciou
a venda do SUV médio ASX produzido em Catalão (GO). Igual ao importado do
Japão, utiliza arquitetura do sedã médio-compacto Lancer, cuja versão nacional
chega em um ano. Motor já é montado no Brasil e versão flex está nos planos. Câmbio
CVT tem seis marchas virtuais. Suspensões bem acertadas, apesar do curso curto.
Parte de R$ 83.490.

POUCO mais de
dois anos de lançamento no Brasil e JAC reformulou os compactos J3 e J3 Turin,
em nível superior ao de tradicional meia-geração. Parte frontal mudou bem e a
traseira do sedã, idem. Boas mudanças internas, com novos materiais, painel e
quadro de instrumentos, este de nítida inspiração alemã. Preços iguais: R$
35.990 e R$ 37.990. Os de produção local, em 2015, serão completamente novos.

CHERY lançou o SUV
Tiggo com reformulações internas e externas que podem ajudar na reação de
vendas da marca chinesa. Revitalização externa inclui da grade à capa do estepe
externo. Recebeu capricho no acabamento interno e equipamentos como bússola,
altímetro e barômetro. Motor de 2 litros podia ter mais torque. Montado do
Uruguai, por R$ 51.990.

DUNLOP, marca
inglesa de pneus do grupo japonês Sumitomo, não se acanhou em entrar no mercado
brasileiro na faixa de maior concorrência, de início importando. Produto a ser feito
no Paraná, a partir de outubro, é da linha EC 201 para rodas de aro 13 e 14
pol., nas medidas mais procuradas.

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[email protected] e www.twitter.com/fernandocalmon

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