Opinião

As embaixadinhas de Felipe

Durante os vários anos que defendeu as cores do Timão, sempre admirei o goleiro Felipe. Tirando uma falha ou outra, é um dos camisas 1 que ficarão marcados na história do clube, apesar dele ter desagradado muita gente lá dentro. Comenta-se que, de gênio difícil, era um cara que tumultuava o grupo. Em uma renovação de contrato, pegou pesado, apelando para a chantagem. Mas em campo, mostrou-se ótimo profissional.


A saída de Felipe do Corinthians acabou manchando a imagem dele perante a torcida. A diretoria o colocou na geladeira, expondo questões internas, divulgando que Felipe estaria jogando sujo, por ter anunciado o interesse de um clube italiano antes de qualquer contrato ter sido fechado. Acabou afastado e encontrou guarida em um clube português, sem qualquer projeção. Mas foram poucos meses por lá até ser apresentado como um dos reforços do Flamengo para este ano.


Mas por que estou falando tanto do Felipe? Simples. No jogo de quarta-feira, quando sofreu quatro gols do Santos, em uma partida antológica em que os craques Neymar – pelo time da Vila Belmiro – e Ronaldinho Gaúcho – pelo rubro negro – brilharam e tomaram conta dos noticiários de quinta-feira. O primeiro fez dois gols, jogadas incríveis, mas viu sua equipe tombar por 5 a 4. O segundo foi genial. Marcou três vezes e foi o grande responsável pela vitória do Mengo.


Já Felipe, apesar de ter buscado a bola nas redes por quatro vezes, protagonizou – para mim – uma jogada maravilhosa. No primeiro tempo, quando seu time perdia por 3 a 2, defendeu um pênalti batido por Elano. O meio campo praiano, querendo dar a volta por cima após mandar para a lua uma cobrança contra o Paraguai na Copa América, tentou marcar dando uma cavadinha no meio do gol. Em diversas oportunidades, dá certo, já que o goleiro escolhe um canto antes e cai em um dos lados da meta.


Desta vez, Felipe não caiu na cavadinha. Ficou parado e quase encaixou o pênalti de Elano. Preferiu matar a bola do peito e sair de lado fazendo embaixadinhas. Ele teve presença de espírito. Agiu com uma rapidez fantástica. Se tomasse o gol, seria ridicularizado pelos adversários. Geralmente, esse tipo de jogada tem um “quê” de humilhação. Dificilmente o goleiro sai bem na fita.


Mas Felipe defendeu e devolveu a provocação na bola. Uma pintura. Foi o feitiço que se voltou contra o feiticeiro. Coisas de futebol. Sem violência. Arte. o time que perida por 3 a 0 venceu por 5 a 4.


Ernesto Zanon


Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo


No Twitter: @ZanonJr

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