O aumento do desemprego observado nos últimos meses parece começar a impactar a inflação. Pela primeira vez em um de seus documentos mais importantes, a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central passou a ver a piora do mercado como fator importante para sua estratégia de levar a inflação para a meta de 4,5% em 2017. Até então, a instituição apenas registrava que postos de trabalho estavam sendo perdidos sem que isso gerasse qualquer repercussão sob o custo de vida.
Na ata divulgada nesta quinta-feira, 5, a “distensão do mercado de trabalho”, que é como o BC define a redução do emprego, foi inserida em um dos últimos parágrafos, no qual a instituição faz avaliações sobre o que pode impactar suas decisões de política monetária. A primeira vez, recentemente, que o BC passou a registrar o emprego em queda, foi em abril do ano passado, quando ele informou que via um início de piora. No entanto, ainda não dizia que a situação pesava para sua decisão. Em julho de 2015 começou a registrar uma aceleração desse quadro e, em janeiro de 2016, começou a usar o termo “intensificação” quando falava em desemprego.
Os documentos mostram que desde que passou a registrar a piora do mercado de trabalho, a situação tinha duas citações na ata e, agora, a partir deste documento, ganhou uma terceira. Essa nova citação ainda vem acompanhada de que há uma “perspectiva de um hiato do produto mais desinflacionário que o inicialmente previsto”, ou seja, a priora do mercado de trabalho, a dinâmica dos preços administrados e o consumo em ritmo menor que a capacidade produtiva do País devem levar a uma desaceleração do custo de vida.
Neste mesmo parágrafo, o BC reafirma que a demanda agregada continuará a se apresentar moderada no horizonte relevante para a política monetária e explica que o consumo das famílias tende a ser influenciado por fatores como emprego, renda e crédito, todos em declínio. A demanda, segundo o BC também deve ser afeta pela concessão de serviços públicos e a ampliação da renda agrícola. Entre outros fatores que podem colaborar com a missão do BC, a instituição ainda listou o desenvolvimento nos âmbitos fiscal, parafiscal e no mercado de ativos.
Em outro trecho da ata, o BC volta a falar do desemprego. “A margem de ociosidade no mercado de trabalho encontra-se elevada (aumento de desempregados), com dados confirmando a intensificação da distensão esperada nesse mercado”, disse a instituição. Ainda assim, mesmo com o maior peso do desemprego crescente, a instituição pondera que permanecem risco de que aumentos elevados de salário possam impactar no custo de vida mas, em seguida, pondera que os reajustes têm sido mais condizentes com a produtividade.
Investimentos
O Copom manteve na ata a avaliação de que os indicadores da economia mostra que as taxas de crescimento da absorção interna e do PIB continuam a se ajustar, indicando ritmo de expansão da atividade doméstica neste ano inferior ao previsto anteriormente.
Entre as causas dessa fraca dinâmica do PIB, o colegiado voltou a citar a retração dos investimentos – decorrente de eventos não econômicos – e do consumo privado, em linha com os dados de crédito, emprego e renda.
O Copom repetiu entretanto, que a atividade tende a se intensificar à medida que a confiança das firmas e das famílias se fortaleça. O BC prevê ainda, no médio prazo, mudanças importantes na composição da demanda e da oferta agregada. “O consumo tende a crescer em ritmo moderado e os investimentos tendem a ganhar impulso. Essas mudanças, somadas a outras ora em curso, antecipam uma composição do crescimento da demanda agregada no médio prazo mais favorável ao crescimento potencial”, reafirmou o documento.
O Comitê voltou a avaliar que a depreciação do real milita no sentido de torná-lo mais favorável ao crescimento da economia brasileira. Pelo lado da oferta, o colegiado prevê que longo prazo emergem perspectivas mais favoráveis à competitividade da indústria e da agropecuária. “O setor de serviços, por sua vez, tende a crescer a taxas menores do que as registradas em anos recentes”, repetiu a ata.
O Banco Central voltou a ressaltar, entretanto, que o processo de alocação mais eficiente dos fatores de produção da economia depende de uma trajetória de superávit primário que fortaleça a percepção de sustentabilidade do balanço do setor público, além da redução de incertezas que cercam o ambiente doméstico e internacional. “Ressalte-se a importância de se perseverar na promoção de reformas estruturais de forma a assegurar a consolidação fiscal em prazos mais longos”, completou.