Economia

Atacado muda cenário para a inflação

As quedas ininterruptas nos preços de produtos no atacado desafiam estimativas de analistas e traçam um cenário mais benigno para a inflação ao consumidor. Os Índices Gerais de Preços apurados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) caminham para a quarta deflação consecutiva em agosto, embora a previsão seja de que a sequência de resultados negativos tenha fim no próximo mês.

“Essa sequência entra para o histórico do índice, já que não temos uma realidade deflacionária”, afirma o superintendente adjunto de inflação da FGV, Salomão Quadros. A última vez em que os IGPs medidos pela instituição tiveram uma deflação continuada foi em 2009, na esteira da crise financeira mundial detonada no ano anterior.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também apura deflação no atacado. O Índice de Preços ao Produtor (IPP), que mede a variação de preços dos bens da indústria de transformação na porta de fábrica, recua há quatro meses seguidos. “Desde fevereiro, os produtos ficaram 1,01% mais baratos”, conta Alexandre Brandão, gerente do IPP.

Os dois setores que registraram maior corte nos preços foram produtos de fumo e de madeira, influenciados pelo câmbio. Segundo o IBGE, de fevereiro a junho, o real teve uma valorização de 6,21% em relação ao dólar. “Quando isso acontece, tem uma influência, os preços caem”, explica Brandão.

Mas os segmentos que mais contribuíram para a deflação na indústria de transformação nos últimos meses foram produtos químicos, derivados de petróleo e alimentos, com as boas notícias da safra e da redução da nafta no mercado mundial.

A inflação acumulada em 12 meses pelo IPP diminuiu de 8,24% em fevereiro para 5,04% em junho, último número divulgado. Ao mesmo tempo, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), índice usado para reajustes no aluguel, saiu de um pico de 7,98% em abril deste ano para 5,32% em julho.

Nos índices de inflação apurados pela FGV, a queda nos preços, concentrada principalmente em alimentos como soja, milho, trigo e seus derivados, tem renovado o fôlego no atacado. A tendência é importante para o indicador, pois os preços entre os produtores respondem por 60% do resultado.

O economista Fabio Bentes, da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), calcula que a queda de preços dos produtos no atacado leve três meses para chegar ao varejo e aí sim ter impacto sobre o bolso do consumidor. “Então tem mais redução de preços ao consumidor aí pela frente, o segundo semestre vai ser bom no sentido de inflação mais controlada”, avalia.

A CNC prevê que a inflação no varejo diminuirá de 7,3% em 2013 para 5,9% este ano. “Quando a gente faz a previsão, levamos em consideração duas variáveis, o IPP e o câmbio. Nos dois casos, o cenário para frente é benigno”, explicou o economista da CNC. “É uma previsão até um pouco conservadora, pode ser que diminua mais.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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