Estadão

Ataque democrático de mais de 100 gols impulsiona Atlético-MG no Brasileirão

Que o futebol é "um cobertor curto", você já deve ter escutado várias vezes. Afinal, é difícil aliar em um time a tão desejada ofensividade a uma defesa sólida. Mas é esse velho ditado que pode explicar de forma direta a diferença entre Atlético-MG e Flamengo, que se enfrentam neste sábado, às 19h, no Maracanã, pelo Brasileirão. Únicos clubes que ultrapassaram a marca de 100 gols na temporada (107 e 133, respectivamente), eles levam a campo propostas completamente antagônicas. Enquanto o rubro-negro convive com a vulnerabilidade de uma defesa exposta – que faz contraponto ao ataque massacrante – o time mineiro tem no equilíbrio e no conjunto sua melhor arma para passar por seus adversários.

E esse contexto de unidade do time pode ser visto na forma como Cuca elabora seus planos de jogo. O treinador dispõe de peças decisivas, como Hulk e Nacho, que juntos participaram diretamente de 60 oportunidades em que o time foi às redes, entre gols e assistências. Porém, em seu esquema, o treinador tenta dar opções de "vazão" para chegar ao ataque quando o jogo está mais "truncado", enquanto oferece a solidez necessária para esses atletas desenvolverem seu futebol.

Esse estilo de jogo traz heróis incomuns, como o volante Jair. Responsável por desarmar e interceptar as ações do adversário, ele também vem contribuindo nas ações ofensivas, através da saída rápida de jogo e, às vezes, até aparecendo na área para deixar sua marca. Na vitória contra o Cuiabá, no último domingo, por 2 a 1, foi ele o autor do tento que garantiu a virada alvinegra. E para o camisa 8, esse gol deve-se à mentalidade do treinador, que oferece alternativas para que todos "pisem na área".

"Cada um tem uma maneira de ver nosso jogo. Muitas vezes o Nacho fica como segundo atacante. Outras, ele vem buscar o jogo e o Zaracho cai como ponta ou vem por dentro. Então, alguém sobe. A gente varia muito dentro do jogo. O importante é que a gente tem equilíbrio defensivo e ofensivo e isso tem ajudado a gente muito", avalia.

Jogando ao seu lado, Allan é outro que sustenta essa ideia de jogo. O volante tem uma das melhores taxas de interceptações do campeonato (89,47%, segundo o índice Footstats). Porém, seu papel não se limita somente a ser o "cão de guarda" alvinegro. Com Cuca, ele também ajuda na construção.

"Roubar bola tem muito a ver com o posicionamento. Busco antecipar as jogadas para estar em condições de dar um combate correto, mas a defesa não é uma questão individual, todos precisam estar atentos às suas funções. Ofensivamente, tenho liberdade para me movimentar dentro de um contexto que não deixe a equipe desorganizada. Mesmo jogando de volante eu gosto de ter a bola, gosto de ajudar a construir", explica.

Essa ideia estende-se a todos em um contexto que oferece várias alternativas para chegar ao gol do adversário. "Nosso grupo tem muita qualidade, a responsabilidade de fazer gols é de todo o time e não de alguns jogadores. Conseguimos ser perigosos de várias formas, em contra-ataques, bola parada, com jogadas individuais… É um mérito de todos os jogadores e da comissão técnica", completa o volante.

Cuca mesmo admite que cobra a participação de todo o time na construção ofensiva, não só das suas peças do ataque. A ideia é que o time "preencha" a área do adversário. "(Há) Muito estímulo e cobrança para que eles pisem na área. Você vai fazer gol se povoar. O Evaristo (de Macedo) me ensinou isso: tem que entrar na área, tem que pisar. Se você chega na área com quatro, cinco, sua chance é maior. Então, é algo que busco com meus atletas", explica.

DEMOCRACIA DO GOL – Essa é uma característica comum aos times de Cuca. Se pegarmos um sucesso no Brasileiro recente, a campanha vitoriosa com o Palmeiras, em 2016, aquele time foi marcado por um conjunto combativo, mas que todos participavam das ações ofensivas. Prova disso é que dos que mais atuaram na caminhada rumo ao caneco, todos balançaram as redes. Isso fez com que aparecessem heróis improváveis, como o lateral-direito Fabiano, autor do gol do título.

No Atlético, Cuca segue a mesma tônica. Dos que mais jogaram, só Dodô, reserva de Arana, e o titular Allan não foram às redes. O volante, por sinal, diz não se importar, apesar de ser alvo de brincadeira dos colegas. "O pessoal pega no meu pé por isso (risos). Podia ter saído aquele contra o River, teria sido um golaço. Mas vai sair no momento certo…", explica o jogador. Quem sabe ele não será o próximo herói?

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