Isser Korik é ator e diretor, mas, mesmo quando está na direção, permite que seu lado intérprete fale mais alto. “A encenação, o mise-en-scène, não me dá tesão”, diz. “Gosto quando a peça faz o ator crescer.” Por essa razão, resolveu dirigir Dez Encontros, peça que, após estrear em Campinas, chega a São Paulo, no Teatro Folha, onde já está em cartaz.
O texto original, Reigen, foi escrito em 1897 pelo austríaco Arthur Schnitzler. Depois disso, originou o longa A Ronda, com direção de Max Ophüls e, no fim dos anos 1990, foi sucesso na Broadway com a interpretação de Nicole Kidman no espetáculo The Blue Room, com adaptação de David Hare – versão utilizada por Korik.
No enredo, dez histórias curtas se cruzam e cada um dos dois atores – em Dez Encontros, André Garolli e Tania Khalill – se divide em cinco personagens. O ritmo é frenético: ao fim de uma cena, um dos personagens fica no palco para contracenar com o mesmo ator, que volta na pele de outra figura. Assim, uma garota transa com um taxista, que se relaciona com uma doméstica. Esta flerta com um estudante que, na cena seguinte, mexe com uma mulher casada e, assim, as histórias seguem. “É tipo aquela música do Chico: Carlos amava Dora, que amava Lia”, conta Garolli, referindo-se a Flor da Idade.
“Essa possibilidade de fazer vários personagens é, de cara, encantadora. Um desafio imenso”, afirma Tania, que diz ser impossível a ela não se identificar, de alguma maneira, com cada uma de suas personagens.
Por meio de uma grande discussão de relacionamento fragmentada, a montagem permeia questões existenciais, como quem somos nós, se estamos, de fato, vivendo nossas vidas e o que consideramos importante.
“Hare é um dramaturgo moderno”, afirma Korik. “Enquanto o texto original é prolixo, sua adaptação é bastante sintética: a mensagem é transmitida com poucas palavras.” Segundo o diretor, todos os personagens têm características muito humanas e conflitos que revelam suas personalidades. “Fomos pelo lado de revigorar o emocional para fugir dos arquétipos.”
Para Tania, a maior dificuldade do espetáculo é a troca constante de personagens. “Temos um fio de segundo para mudar. É muito rápido. Queríamos uma sutileza nessa transição, sem resolver facilmente, evitando cair na caricatura”, afirma. “É uma peça que exige atenção o tempo inteiro. E isso é muito gostoso.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.