Com o espetáculo Capô, em cartaz no Espaço Ademar Guerra do Centro Cultural São Paulo, a atriz e diretora Georgette Fadel realiza, aos 48 anos, sua primeira investida como dramaturga. Mas avisa que, ao contrário de tudo que a tornou conhecida nos palcos, o novo trabalho dispensa discursos engajados ou qualquer agressividade social e política.
Capô percorre o caminho da delicadeza, chega à cena apoiado em simbologias e palavras sutis em busca de um envolvimento utópico com o espectador. "É tudo simples, por isso gostaria que ninguém criasse expectativas diante desse namoro com a dramaturgia", alerta, modesta, Georgette, que também assina a direção. "O objetivo é exaltar as forças do coração, que precisamos manter vivas, porque se o nosso coração arrebentar tudo pode acontecer."
No palco, as atrizes Laura Fajngold, Luciana Fróes e Sarah Lessa, também colaboradoras do texto, ocupam um tatame de 5 x 5 m. Elas representam três mulheres sobreviventes que, depois de uma guerra que destruiu o planeta, procuram o coração da Terra, para recuperar o último suspiro humano. Diante da devastação, o trio inicia uma jornada pelas etapas da reconstrução, como a solidão, o esquartejamento do ego, a descoberta do amor e a liberdade das diferentes formas de existência. "Eu não disse que era tudo simbólico? Não há qualquer ironia ou postura mais contundentes", reforça a artista.
<b>AUDIOVISUAL</b>
O projeto nasceu antes de o mundo se fechar na pandemia e, no ano passado, foi objeto de uma experiência audiovisual. Georgette e suas parceiras mergulharam na discussão de ideias e, por meio dos livros, entenderam sobre o que queriam falar. Teoria King Kong, de Virginie Despentes, e Calibã e a Bruxa: Mulheres, Corpos e Acumulação Primitiva, de Silvia Federici, foram dois deles. "São obras que deram uma situada na mulherada em relação ao feminismo", explica ela.
A inspiração para a atmosfera cênica, abstrata e simbólica, porém, veio de A Vida das Plantas, de Emanuele Coccia, que propõe repensar do zero as relações entre o mundo e os seres vivos. "Não sei de mais nada porque as minhas certezas desapareceram e estou desconfiada de mim mesma", confessa Georgette. "Tudo tem de mudar e não sei se quero ou se estou conseguindo."
A artista bem que tem tentado diversificar ou, pelo menos, renovar a bem-sucedida carreira, que, desde meados da década de 1990, foca o teatro. Ela chamou atenção no cinema em Partida (2019), filme de Caco Ciocler, que coloca a atriz como condutora do roteiro e personagem de si mesma. Na televisão, esteve na série Segunda Chamada (2019), da Globo, como uma ex-presidiária que procura uma escola noturna e, no começo da pandemia, participou de Diário de um Confinado, de Bruno Mazzeo, vivendo a faxineira do protagonista.
<b>TELESSÉRIE</b>
As duas produções, dirigidas por Joana Jabace, abriram caminho para novas oportunidades televisivas. Joana, agora na HBO Max, escalou a intérprete para a telessérie Segundas Intenções. Na trama, que enfoca a indústria da beleza e o risco dos procedimentos estéticos, a atriz vai viver uma policial corrompida. "Quero sacar um pouco do vídeo, me entender com a câmera e, claro, tenho interesses financeiros, pois preciso dar uma estabilizada na minha vida", afirma. "Mas não vou ficar aquela cinquentona que cedeu ao mercado, fazendo ponta em novelas."
Para rodar Segundas Intenções, entre julho e setembro, no Rio de Janeiro, Georgette precisou, com o coração partido, largar alguns projetos e se ausentar temporariamente de outros. Os ensaios de A Guerra dos Bárbaros, que dirige para a Cia. São Jorge de Variedades, terão continuidade a distância, e o segundo trabalho como dramaturga está consolidado. Trata-se de Cecília, montagem de rua em homenagem a Santa Cecília, a ser encenada até o fim do ano no largo do mesmo nome, na região central de São Paulo.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>