Estadão

Aversão a risco e commodities levam Ibovespa de volta ao nível de janeiro

A conjuntura de aversão global a risco que vem se desenhando desde a semana passada, após a decisão de juros nos EUA, somada a um dia negativo para as commodities globalmente, na esteira do receio de uma desaceleração na China, culminaram em mais um dia negativo para a bolsa brasileira. O Ibovespa cedeu ao nível dos 103 mil pontos, no menor patamar desde 10 de janeiro, e apagou os ganhos do índice no ano.

O Ibovespa terminou o dia em queda de 1,79%, aos 103.250,02 pontos, mais próximo da mínima (102.768) do que da máxima (105.109) registrada nesta segunda-feira. O desempenho ainda foi melhor do que o dos índices americanos, com Nasdaq recuando mais de 4%. No mês e no ano, a queda é de 4,29% e 1,50%.

Os índices aqui e lá fora respondem a um conjunto de fatores que retiram do investidor o apetite por correr riscos. O investidor monitora os dados chineses, em busca de sinais do tamanho do impacto dos lockdowns na atividade do país e, consequentemente, na cadeia de suprimentos global. Apesar de acima do esperado, os dados da balança comercial chinesa divulgados nesta segunda-feira não foram bem interpretados por aqui ao apresentarem uma queda contundente nas importações de minério de ferro.

Assim, os papéis ligados às commodities metálicas sofreram, com destaque para a Vale (-4,10%). A commodity teve queda de 6,18% no porto de Qingdao, na China. O petróleo teve tombo parecido, com o barril do Brent desabando 5,74%, negociado a US$ 105,94. Com isso, as ações de petroleiras figuraram entre as piores quedas do índice nesta segunda. PetroRio e 3R Petroleum despencaram 8,60% e 8,70%, respectivamente. E Petrobras caiu 2,72% (PN) e 4,01% (ON).

Além disso, o investidor monitora os sinais da política monetária americana. Mesmo após o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, ter dito que uma alta ainda mais agressiva dos juros, de 75 pontos-base, estaria fora da mesa, sinalizações dos diretores da instituição parecem deixar a porta mais entreaberta do que o que foi sinalizado na semana passada.

Mais cedo, o presidente da distrital do Fed em Atlanta, Raphael Bostic, afirmou que não espera uma alta de 75 pontos-base nos juros, embora tenha ponderado que prefere "não descartar" qualquer opção. Essa possibilidade de alta mais agressiva de juros não apenas ameaça o já conturbado cenário de crescimento global, como também diminui o custo de oportunidade de se investir em ativos de risco. Em maior grau, retira interesse em países emergentes.

"É uma combinação de coisas (que derrubam a bolsa nesta segunda). Nos EUA você tem uma continuidade do movimento de realização das bolsas. Aversão a risco com yield das Treasuries atingindo novos picos e isso impactando setores como tecnologia. Aqui, na bolsa local, soma-se o efeito de commodities. Você tem um sentimento crescente de impacto dos lockdowns na China e isso está afetando negativamente o preço do petróleo e do minério", pontua o gestor de renda variável da Western Asset, Naio Ino.

O diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP, André Meirelles, lembra que um movimento tão negativo paras as commodities é especialmente ruim para a bolsa brasileira. "A redução no preço das commodities tende a influenciar negativamente o índice, visto que mais de 30% de sua composição está atrelada ao setor", disse.

Especialista em renda variável da Blue3, Dennis Esteves lembra que os efeitos da guerra da Ucrânia não foram esquecidos pelo mercado e adicionam mais uma camada de incerteza ao cenário. "Hoje o movimento é de digestão, por parte do mercado, do aumento de juros nos EUA na semana passada. Ele reprecifica os mercados globais. Mas temos também o desaquecimento da economia por parte da China e ainda a questão da guerra pairando como um fantasma sobre o mercado. No Brasil, a gente sofre nessa linha de frente com reprecificação das commodities", disse.

Por outro lado, o setor financeiro tentava – ainda que com pouco fôlego – impedir uma queda maior, ancorado em bons desempenhos corporativos dos últimos dias. Bradesco subiu 1,49% (PN) e Santander tinha alta de 0,91%. BTG, por sua vez, figurou entre os maiores ganhos do índice nesta segunda e subiu 3,61%. Apesar do resultado em linha com o esperado, no entanto, os papéis do Itaú Unibanco tiveram dia no vermelho e caíram 1,43%.

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