Em tempos de debate sobre o tamanho dos bancos públicos no investimento doméstico, outras instituições de fomento miram as oportunidades e as lacunas ainda não preenchidas no Brasil, principalmente em termos de infraestrutura. Com uma participação ainda pequena nos negócios no País, o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) planeja ampliar seus desembolsos e atingir cerca de US$ 11 bilhões nos próximos cinco anos – um crescimento de sua carteira entre 6% e 8% ao ano.
Para alcançar a meta, o banco trabalha a pleno vapor. Na semana passada), entre um rol de projetos aprovados, o CAF garantiu um financiamento de US$ 200 milhões à Petrobras para a construção de um gasoduto no pré-sal, contou o diretor-representante da instituição no Brasil, Victor Rico, em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Outros dois projetos que estavam sobre a mesa foram assegurados na reunião de diretores realizada no Panamá – na qual a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, representou o Brasil.
Entre 2009 e 2013, o CAF desembolsou US$ 8,8 bilhões para projetos brasileiros, entre operações com o setor público federal, estadual e municipal, além de linhas de crédito para comércio exterior junto a bancos privados, participações em fundos, créditos corporativos e linhas de crédito com bancos regionais. Os estados de Rio de Janeiro, São Paulo, Amazonas e Ceará e os municípios de Manaus e Fortaleza estão entre alguns dos beneficiados pelas políticas do banco. Na reforma do Estádio do Maracanã para a Copa do Mundo, a instituição participou com US$ 120 milhões. Outros US$ 200 milhões financiam obras complementares ao Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, cujo primeiro trecho foi inaugurado este ano.
Nos próximos cinco anos, o CAF trabalha com quatro áreas prioritárias, entre elas a mobilidade urbana. “Consideramos que é um tema de grande prioridade neste momento e de grande importância para os cidadãos brasileiros. Então, estamos estudando formas de poder apoiar distintos projetos”, disse Rico. As áreas de energia, água e saneamento básico e infraestrutura da educação também encabeçam a lista da instituição. Na área de educação, a instituição ainda analisa um projeto de US$ 200 milhões para construção de escolas e compra de equipamentos no Pará.
A média esperada de desembolsos nos próximos cinco anos é de US$ 1,85 bilhão ao ano, mas o período entre 2017 e 2019 deve apresentar resultados melhores. Em 2015 e 2016, o crescimento da carteira deve ficar na casa de 6%, segundo estimativa conservadora.
A reunião de diretoria do CAF analisou e aprovou um financiamento de US$ 200 milhões à Petrobras para a construção do Gasoduto Submarino do Pré-sal Rota 3. A obra, que também está listada no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), vai interligar o polo do pré-sal ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). No escopo do projeto, a estatal previu a partida de um primeiro bloco do gasoduto em janeiro de 2016.
Na mesma reunião, foram sancionados financiamentos de US$ 250 milhões para o município de Fortaleza e de US$ 100 milhões para Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Na capital cearense, os recursos vão servir ao Programa de Valorização e Ampliação da Infraestrutura e Atividade Turística de Fortaleza (Provatur). Em Niterói, o montante será empregado no Programa da Região Oceânia Sustentável, que prevê obras complementares à construção das linhas de ônibus BRT na cidade.
Investimentos
Apesar de todos os projetos em andamento, o Brasil precisaria dobrar o volume de investimentos em infraestrutura em relação ao PIB para suprir os gargalos existentes, calcula Rico. Para isso, ele avalia que as alianças entre os setores público e privado serão ainda mais importantes, o que abre oportunidades para a instituição.
“É necessário estabelecer todas as regras e todos os incentivos para que se possa canalizar mais recursos. Nesse sentido, as PPPs (Parcerias Público-Privadas) e todos os outros mecanismos financeiros são fundamentais. Existem os recursos disponíveis aqui e fora do Brasil, então é preciso estabelecer mecanismos e desenhos que permitam atrair e gerar a certeza necessária para que os recursos sejam canalizados”, disse. “Vamos estar atentos às necessidades e às prioridades que podem nos sinalizar tanto o governo federal quanto estadual e municipal.”
Além do desejo de expandir suas atividades no Brasil, o CAF espera tirar proveito de uma característica que considera vantajosa: a agilidade na concessão dos financiamentos, complementar às taxas de juros menores do que as cobradas pelo mercado. “Nosso espaço (de tempo) para que uma operação de crédito possa ser aprovada não é mais que seis meses”, contou Rico.
Mesmo diante de uma conjuntura difícil na economia brasileira, que combina queda nos investimentos, baixa confiança, política fiscal desacreditada, inflação elevada, juros altos e consumo em desaceleração, o diretor-representante do CAF no País aposta em recuperação. Segundo Rico, o Brasil é um mercado importante e ainda atraente ao capital estrangeiro. “Não temos nenhuma dúvida de que o Brasil vai superar os percalços e as dificuldades conjunturais. As medidas que foram anunciadas pela própria presidente (Dilma Rousseff) e pelo ministro da Fazenda indicado (Joaquim Levy) são medidas que vão na direção correta”, analisou Rico.
O Brasil é membro pleno do CAF desde 2008. A instituição, que nasceu como Confederação Andina de Fomento (daí a sigla CAF), toma e empresta recursos a seus 19 países integrantes – fora da América Latina, apenas Portugal e Espanha participam com fatias pequenas em aportes e empréstimos -, além de buscar financiamento no mercado.