Os quatro maiores bancos brasileiros – Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Caixa e Bradesco – ampliaram em R$ 54 bilhões suas provisões para créditos duvidosos, uma espécie de seguro contra calotes, desde os balanços do primeiro trimestre de 2014 até os do segundo trimestre deste ano.
O crescimento foi de 60%, levando a R$ 144 bilhões o valor das provisões dessas quatro instituições. Os balanços dos bancos do primeiro trimestre de 2014 ainda não haviam sofrido o impacto da Operação Lava Jato, cujos efeitos acentuaram a deterioração financeira das empresas envolvidas, muitas delas com empréstimos desses bancos. A crise econômica também fez com que a qualidade de crédito fosse piorando ao longo desses dois anos.
O BB, o maior banco do País, é exemplo do problema. Foram R$ 5 bilhões para a Sete Brasil, outros R$ 4 bilhões para a Oi, R$ 3,5 bilhões para a Odebrecht Agroindustrial e R$ 1 bilhão para o Estaleiro Rio Grande, da Ecovix. Usiminas, CSN, PDG, Odebrecht Óleo e Gás e muitos outros nomes ainda fazem parte da lista de grandes devedores do BB que estão enfrentando dificuldades financeiras para pagar as dívidas, quando já não estão de fato inadimplentes. Dos casos de recuperação judicial ou reestruturação de dívidas de grandes empresas, nos últimos dois anos, são poucos aqueles em que o BB não é um dos credores mais importantes.
O resultado dessa exposição a tantos clientes com dificuldades foi que as provisões para calotes do banco estatal cresceram 85% em dois anos, chegando a R$ 37 bilhões, cerca de 6% de sua carteira de crédito. O total de renegociação mais que dobrou, chegando a R$ 25 bilhões.
De acordo com alguns analistas, a piora dos calotes e o consequente aumento das provisões não representa, por enquanto, um risco sistêmico se levado em conta que os quatro bancos juntos têm quase R$ 2 trilhões em crédito. Mas os calotes pioram os resultados. A expectativa é de que com o aumento das renegociações, mediante exigência de novas garantias, a desaceleração dos calotes, já sentida no segundo trimestre do ano, continue até o fim de 2016.
Para tentar conter a inadimplência, esses grandes bancos agiram de forma muito parecida. BB, Bradesco e Itaú seguraram o crédito, que ficou escasso e hoje só é concedido para clientes de baixo risco. A previsão é de que suas carteiras de crédito terminem o ano menores do que começaram, e as quedas previstas são de até 11%.
Além disso, os bancos criaram áreas específicas para cuidar de reestruturação de dívidas de grandes empresas. Um dos principais objetivos é evitar a recuperação judicial, que leva a um provisionamento imediato para os bancos.
Rating. A queda da qualidade do crédito é bastante visível na classificação de risco de empresas. Os bancos dão notas de AA a H para cada empréstimo que fazem. Na nota AA estão aqueles clientes menos arriscados, sendo a única que não exige provisão. Esses clientes no Banco do Brasil representavam 71% da carteira de pessoa jurídica em março de 2014. Na última divulgação de balanço, caiu para 56%.
Bradesco e Itaú também tiveram piora, mas eles não divulgam dados da mesma forma que o BB. Nos dados disponíveis, no entanto, é possível ver que o Bradesco acompanhou de perto a queda da qualidade do BB. Os grandes devedores do banco que tinham crédito AA e A eram 93% em março de 2014, caindo para 78,8% agora.
Os dois bancos privados têm uma inadimplência medida pelos atrasos em 90 dias historicamente maior que a do Banco do Brasil. Os dois estão com índice em torno de 4,5% e com tendência de crescimento em função do calote da Sete Brasil, que está em recuperação judicial. Essa inadimplência ainda não fez efeito sobre os índices de longo prazo desses dois bancos, diferente do BB, que já contabilizou – seu índice está em 3,7%, ante os 1,89% do ano passado. Mas o BB está mais exposto a calotes novos que seus concorrentes.
Adicional
O Itaú, por exemplo, dos R$ 38 bilhões que tem reservado para calote, cerca de R$ 10 bilhões são das chamadas provisões adicionais, em que os clientes ainda não atrasaram pagamento e portanto não fazem parte da exigência técnica do Banco Central. No BB, esse valor é zero. No Bradesco, é de R$ 6 bilhões.
Os bancos não falam de seus clientes em função das regras de sigilo bancário. Muitas vezes só é possível saber que instituição emprestou para quem quando a própria empresa divulga em seu balanço ou se entra em recuperação judicial e torna pública sua lista de credores.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.