Com a maior preocupação dos investidores em torno da sustentabilidade fiscal brasileira e a consequente volatilidade do mercado, os bancos começaram a recomendar para empresas que estão próximas de lançar suas ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) que aguardem um momento um pouco mais calmo. O objetivo é melhorar os preços das ações das companhias. O conselho foi dado, por exemplo, à Havan, rede varejista do empresário Luciano Hang, que estava prestes a estrear na Bolsa, mas decidiu postergar a oferta.
"O mercado está muito difícil agora. O ideal é aguardar um cenário com menos volatilidade, para se conseguir precificar de forma apropriada a empresa", diz uma fonte do mercado financeiro, envolvida em diversas operações. A visão é de que outubro será um período de grande turbulência, que tende a crescer com a proximidade das eleições dos Estados Unidos. A partir daí, se o cenário interno ajudar, com um maior entendimento entre os poderes e redução dos questionamentos sobre a saúde das contas públicas, a janela para captações tende a se tornar mais favorável.
No caso da Havan, empresa de Santa Catarina com faturamento bilionário que ganhou os holofotes por conta do apoio irrestrito de seu controlador a Jair Bolsonaro desde a campanha presidencial, o conselho dado foi adiar porque a empresa não conseguiria alcançar o valor desejado na oferta. A companhia começou as reuniões preliminares com investidores há cerca de 15 dias, e o preço que vinha sendo testado para a estreia da empresa era de um valor de mercado de R$ 70 bilhões, mas o mercado via algo entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões.
A volatilidade do mercado está muito maior agora, o que dificulta as precificações. A ideia, disse uma fonte, é que a empresa passe mais tempo em reuniões com investidores. A depender das condições de mercado, a oferta da Havan poderá ser lançada ainda neste ano.
Interesse garantido. Outra fonte, de um banco de investimento envolvido nas ofertas, disse que, no momento, só estão sendo mantidas as ofertas que já têm demanda suficiente para o IPO, no jargão do mercado são aquelas que "já têm o livro coberto".
Nesta semana, duas ofertas ainda serão precificadas: a do varejista Grupo Mateus, cuja demanda superava a oferta em três vezes, e a da Natura, que é uma oferta subsequente – conhecida como "follow-on" (quando uma empresa que já tem ações negociadas em Bolsa resolve vender mais papéis, com objetivo, por exemplo, de arrecadar recursos para expandir operações).
Na última segunda-feira, a empresa de logística Sequoia, investimento do fundo de private equity norte-americano Warburg Pincus, concluiu seu IPO, mas teve de enfrentar pressão de investidores. Para ter sucesso, reduziu o preço em 13% em relação ao piso inicialmente proposto. Desde agosto, Pague Menos, Lavvi e Cury também reduziram os preços para viabilizar suas estreias na B3.
Mas nem todas as empresas que acabaram lançando a oferta e se depararam com uma maior volatilidade aceitaram abrir mão de preço. Por isso, preferiram aguardar. Compass, da Cosan, o banco BR Partners e a construtora Pacaembu decidiram esperar por mares mais calmos antes de levarem as empresas a mercado. Outra oferta de grande porte que já anunciou que esperará é a Caixa Seguridade, holding da área de seguros da Caixa Econômica Federal.
Com pedido de registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para abrirem capital há atualmente cerca de 50 candidatas. No ano até aqui, o volume das emissões está em cerca de R$ 75 bilhões.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>