Os grandes bancos brasileiros estão negociando em conjunto uma recuperação extrajudicial – ou seja, fora do ambiente da Justiça – do Grupo Odebrecht, afirmou ontem Octavio de Lazari, presidente do Bradesco. “Trabalhamos com todos os cenários (sobre a Odebrecht)”, disse Lazari, depois de proferir palestra no CIAB Febraban 2019, tradicional feira de tecnologia bancária. “Procuramos, porém, (priorizar) uma recuperação extrajudicial para que todos os atores possam sentar-se à mesa e chegar a um ajuste, com concessão de mais prazo e condição de pagamento diferenciada.”
Segundo Lazari, a busca pelo entendimento é para evitar que a controladora de empresas como a OEC, a maior empreiteira do País, e da petroquímica Braskem não entre em um processo de recuperação judicial. “Temos preocupação (com a Odebrecht), lógico porque é uma empresa importante, que tem crédito e ativos em todos os bancos”, afirmou Lazari. “É uma empresa importante para o País, gera muitos empregos e tem tecnologia de engenharia avançada, reconhecida, então, é uma pena que a gente tenha uma perda ou uma empresa brasileira numa situação como essa.”
Dificuldades. Com cerca de R$ 70 bilhões em dívidas, a Odebrecht tenta não seguir o mesmo caminho de sua subsidiária do agronegócio, a Atvos, que no fim de maio pediu recuperação judicial após uma investidora americana, a Lone Star, ter conseguido na Justiça o arresto de parte da produção da empresa.
Além da recuperação da Atvos, empresa cujo controle chegou a ser oferecida pela Odebrecht para os bancos como contrapartida a um pedido de repactuação de dívidas, outro revés nas conversas foi a desistência da holandesa LyondellBasell, na semana passada, de comprar o controle da Braskem. Ativos da petroquímica também tinham sido oferecidos pela Odebrecht para facilitar as conversas com credores.
Caso a Odebrecht S.A. entre em recuperação judicial, os bancos entrarão ainda numa fila para receber os empréstimos, ao lado de funcionários, governo, fornecedores e outros. Além disso, o desconto sobre a dívida tende a ser bem maior. Por isso, a organização para a recuperação extrajudicial do grupo controlador, que garante empréstimos de cerca de R$ 20 bilhões de suas subsidiárias.
Lazari afirmou que todos os bancos estão “muito bem provisionados” em relação à Odebrecht. Especificamente sobre o Bradesco, ele disse que o banco tem provisões conforme “padrões estabelecidos”. “Temos provisões necessárias”, disse.
Desde que a Odebrecht foi envolvida nos escândalos da operação Lava Jato, os bancos começaram a a provisionar recursos para possíveis perdas, enquanto negociavam maiores garantias como condição para alongar vencimentos.
De acordo com Lazari, a situação da Odebrecht é um caso isolado uma vez que as empresas brasileiras são pouco alavancadas. “É um caso que está sendo bem administrado e a gente vai tentar solucionar”, afirmou.
Uma reunião entre os credores da empresa estava agendada para ontem. No centro dos debates, o pedido de garantias por parte da Caixa, que quer acesso às ações da Braskem assim como os demais credores.
Na OEC, a recuperação extrajudicial já é tida como certa, uma vez que os principais credores da empresa são bondholders (detentores de títulos) espalhados pelo mundo. Para conseguir a renegociação total, a saída é a recuperação extrajudicial, que requer a aprovação do plano por detentores de três quintos da dívida – ou 60%.
Esse pode ser um problema uma vez que os bancos públicos detêm participação relevante da dívida. São eles os mais arredios na busca por uma solução.
Para conseguir a recuperação extrajudicial, a empresa teria de conseguir a adesão de parte desses bancos. Um credor disse que a opção extrajudicial não foi discutida com todos os bancos e não deve ser uma saída fácil. A Odebrecht informou, em nota, “que está empenhada em implementar ações para a estabilização financeira do grupo e, assim, criar bases para a retomada do crescimento de seus negócios”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.