Com um discurso de mais de uma hora no gramado da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, encerrou a convenção republicana na noite desta quinta-feira com ataques renovados a Joe Biden. O republicano apresentou Biden como uma ameaça à nação e disse que a possível eleição do democrata significará insegurança, aumento de desemprego e o fim do sonho americano. "Biden não é o salvador da alma americana, ele é o destruidor dos empregos americanos, com o risco de ser o destruidor da grandeza americana", disse Trump.
O discurso foi feito no gramado da Casa Branca, em um evento para cerca de 1,5 mil pessoas, a maioria sem máscaras. A mistura entre governo e campanha política foi recorrente na convenção republicana, com uso da residência oficial do presidente em três dos quatro dias do evento de campanha. Manifestantes protestaram contra Trump nos arredores da Casa Branca. Centenas deles, com mensagens contra o racismo, reuniram-se em frente à Casa Branca para exigir a saída de Trump. Republicanos soltaram fogos ao final do discurso do presidente.
Trump, que tem sido confrontado com o fato de os EUA terem o maior número de infectados e mortos por covid-19 no mundo, prometeu uma vacina contra coronavírus até o final do ano "ou antes". A promessa tem sido feita reiteradamente pelo presidente.
A pandemia e a recessão fizeram Biden despontar como favorito nas pesquisas, com mais de oito pontos porcentuais de vantagem, uma das maiores da história recente contra um presidente em primeiro mandato. A situação da covid-19 nos EUA, no entanto, foi praticamente ignorada na convenção republicana.
O argumento central do republicano, ao falar da crise atual, é o de que ele pode colocar os EUA nos trilhos da prosperidade econômica que o país vivia antes da covid-19 e a eleição do democrata significará desemprego. "Nós vamos novamente construir a maior economia de nossa história", disse Trump. O presidente também argumentou que seu governo passou "os últimos quatro anos tentando reverter o dano causado por Biden nos últimos 47 anos".
A covid-19 se tornou um telhado de vidro na campanha do presidente, que minimizou o impacto do novo vírus até a metade de março, apesar de ter recebido alertas dos especialistas do próprio governo desde janeiro. Os EUA têm 5,8 milhões de infectados e 180 mil mortos em decorrência do vírus. A resposta tardia e errática de Trump, que pressionou governos estaduais a relaxar medidas de isolamento de forma prematura em abril, é criticada pela oposição e mal avaliada pela maioria dos americanos.
Ao falar sobre a estratégia para vencer a pandemia, Trump acusou Biden de planejar uma "paralisação dolorosa no país inteiro" o que, segundo ele, irá custar perda devastadora de empregos. "O plano do Joe Biden não é uma solução para o vírus, é uma rendição para o vírus", disse Trump.
Durante uma hora e dez minutos, Trump falou ao menos 39 vezes o nome de Joe Biden, vinculando o nome do democrata a uma suposta agenda de esquerda radical. Biden, no entanto, faz campanha com uma agenda política de centro. "Em nenhum momento os eleitores enfrentaram uma escolha tão clara entre dois partidos, duas visões, duas filosofias ou duas agendas. Essa eleição vai decidir se salvamos o sonho americano ou se deixamos uma agenda socialista demolir nosso querido destino", disse Trump.
Ao explorar a tática do medo, Trump afirmou que se a oposição ganhar o poder, o governo irá demolir os subúrbios, onde vive a classe média americana, confiscar armas e nomear juízes que vão "varrer" liberdades constitucionais.
A fórmula da campanha de Trump, apresentada nas quatro noites de convenção, é a mesma adotada em 2016: a do ataque e acusação de que a oposição representa uma agenda de esquerda radical. Há quatro anos, a retórica surtiu efeito contra Hillary Clinton. A principal diferença é que Trump, em 2020, é o presidente incumbente, que terá seu mandato avaliado no curso de uma pandemia e de crise econômica.
"Os EUA não são uma terra envolta em trevas. Os EUA são uma tocha que ilumina o mundo inteiro", disse Trump, ao rebater Biden. Na semana passada, ao aceitar a nomeação, o candidato democrata prometeu ser um "aliado da luz" para tirar o país de uma "época de escuridão". Biden não mencionou o nome de Trump nenhuma vez durante o discurso de aceitação da candidatura.
<b>Tensão racial</b>
O presidente não falou sobre os protestos em Kenosha, Wisconsin, que acontecem desde domingo quando um homem negro foi baleado à queima roupa por um policial branco. O tema tem dominado as atenções no país depois que dois manifestantes foram mortos por um jovem de 17 anos que atirou contra a multidão.
Desde que protestos contra o racismo e violência policial se espalharam pelo país após o assassinato de George Floyd, em Mineápolis, em maio, o governo Trump tem adotado o discurso da "lei e da ordem". Em tom inflamado, ele já chamou os manifestantes antirracismo de radicais, anarquistas, saqueadores ou bandidos, um tom que repetiu nesta noite. "Seu voto decidirá se protegemos os americanos que cumprem a lei ou se damos rédea solta aos violentos anarquistas, agitadores e criminosos que ameaçam nossos cidadãos", afirmou.
"A esquerda radical vai tirar recursos da polícia em todo o país. Ninguém estará seguro nos EUA de Biden. Meu governo sempre apoiará policiais", disse Trump, que afirmou que seu governo "continuará a apoiar" policiais. "Se o Partido Democrata quer ficar ao lado de anarquistas, agitadores, desordeiros, saqueadores e queimadores de bandeiras, isso é com eles. Mas eu, como seu presidente, não farei parte disso. O Partido Republicano continuará sendo a voz dos heróis patrióticos que mantêm a América segura e saúdam a bandeira americana", disse Trump
Durante a convenção, os republicanos contestaram a ideia de que há racismo sistêmico nos EUA e afirmaram que Biden pode tirar recursos da polícia – o democrata diz que não concorda em diminuir financiamento à polícia.