Estadão

Bloqueio de caminhoneiros no Canadá inspira grupos antivacina em vários países

Inspiradas por manifestações no Canadá, centenas de pessoas na Nova Zelândia usaram caminhões e outros veículos para bloquear ruas no entorno do Parlamento do país nesta terça-feira, 9, em protesto contra a obrigatoriedade da vacina e as restrições por causa da pandemia.

Batizada de "Comboio da liberdade" – mesmo nome da mobilização no Canadá -, a demonstração na capital neozelandesa, Wellington, ilustra o apoio que os atos no país da América do Norte vêm recebendo de grupos antivacina e de extrema direita em vários países.

A Austrália também teve protestos inspirados no Canadá, que incluíram um "Comboio a Camberra", a capital australiana. Além de pessoas contrárias à obrigatoriedade da vacina, havia também membros de grupos religiosos e cidadãos que diziam não estar sujeitos a lei nenhuma, descrevendo-se como "soberanos".

Nos EUA, caminhoneiros de vários Estados planejam lançar seu próprio comboio, da Califórnia à capital Washington, segundo Brian Brase, um dos organizadores da ação, enquanto grupos antivacina também se articulam nacionalmente, pedindo a adoção de táticas similares às dos canadenses.

Em Nova York, centenas empunharam uma grande bandeira canadense ao se manifestarem na segunda-feira contra a demissão, a partir da próxima sexta-feira, de empregados municipais que rejeitarem se vacinar contra a covid-19. No domingo passado, centenas de caminhoneiros protestaram no Alasca contra a vacinação obrigatória e em apoio a seus colegas canadenses.

No protesto na Nova Zelândia, manifestantes de diferentes cantos do país se reuniram antes do primeiro discurso do ano da primeira-ministra Jacinda Ardern.

Os manifestantes, em sua maioria sem máscara, seguravam cartazes pedindo "liberdade", prometendo acampar do lado de fora do Parlamento até a suspensão das restrições anticovid. Ardern disse que os manifestantes não representavam a opinião da maioria. "A maioria dos neozelandeses fez todo o possível para manter uns aos outros seguros", disse em entrevista coletiva.

Iniciados em 28 de janeiro na capital canadense, Ottawa, por caminhoneiros contrários à exigência de vacinação para poder cruzar a fronteira com os EUA, os protestos ganharam a adesão de cidadãos antivacina e se converteram rapidamente em uma mobilização contra as medidas sanitárias no Canadá e, para alguns manifestantes, contra o governo de Justin Trudeau. As manifestações de espalharam para outras cidades, como Québec e Toronto.

Após o fim de mais de uma semana de isolamento por causa de uma infecção por covid-19, Trudeau se pronunciou sobre os atos durante um debate de urgência na Câmara dos Comuns na segunda-feira à noite, declarando que a mobilização "tem de acabar". "Indivíduos estão tentando bloquear nossa economia, nossa democracia e a vida de nossos cidadãos. Isso têm de acabar", afirmou.

Trudeau dissera anteriormente que o movimento representava uma "pequena minoria marginal" e que o governo não seria intimidado. Cerca de 90% dos caminhoneiros que trabalham cruzando a fronteira e quase 80% da população canadense já tomaram as duas doses da vacina contra o coronavírus.

O apelo do premiê canadense foi feito após os caminhoneiros terem interrompido o acesso a passagens críticas da fronteira, incluindo a Ambassador Bridge, importante ponte para circulação de mercadorias entre o Canadá e os EUA ao conectar Windsor, em Ontário (Canadá), com a americana Detroit.

O Canadá envia 75% de suas exportações para os EUA, e cerca de 8 mil caminhoneiros trafegam diariamente pela ponte, que continua bloqueada nesta terça-feira. No domingo, o prefeito de Ottawa já havia declarado situação de emergência.

<b>Apoio de Trump</b>

Os atos, que foram elogiados pelo CEO da Tesla, Elon Musk, receberam o apoio de autoridades conservadoras dos EUA, como o senador pelo Texas e republicano Ted Cruz, que qualifica os manifestantes de "heróis" e "patriotas". Já o ex-presidente Donald Trump classificou Trudeau de "lunático de extrema esquerda" e disse que "mandatos insanos de covid" estão destruindo o Canadá.

"O Comboio da Liberdade poderia vir a Washington com caminhoneiros americanos para protestar contra a política ridícula de Joe Biden sobre a covid-19", afirmou Trump em um comunicado.

O ministro da Segurança Pública canadense, Marco Mendicino, citou uma "potencial interferência estrangeira" ao reagir às declarações de Trump e dos outros americanos. "Somos canadenses. Temos nosso próprio conjunto de leis. Nós as seguiremos."

Alguns congressistas republicanos prometeram investigar o site GoFundMe após ele derrubar uma página de doações aos caminhoneiros canadenses que já somava quase US$ 10 milhões – e que havia liberado US$ 789 mil até seu fechamento. Depois disso, as doações se concentraram em outras plataformas, como a GiveSendGo, um site cristão de crowdfunding que arrecadou mais de US$ 5 milhões na noite de segunda-feira.

Fotos dos caminhoneiros canadenses apareceram em grupos antivacina no Facebook e em outras redes sociais há cerca de duas semanas, sendo disseminadas rapidamente, assim como a hashtag usada pelos caminhoneiros: #FreedomConvoy (Comboio da liberdade).

Na França, uma página também chamada de "Comboio da liberdade", seguida por mais de 275 mil pessoas, pede que os opositores das medidas sanitárias impostas pelo governo se reúnam no próximo domingo em Paris. Rémi Monde, um dos organizadores do comboio francês, qualifica o movimento canadense de "muito inspirador". Outros grupos nas redes sociais também convocaram manifestações em Bruxelas, na Bélgica.

A Meta, empresa controladora do Facebook, disse que excluiu vários grupos associados ao comboio por violar suas regras de comportamento, como compartilhar conteúdo vinculado ao movimento de conspiração QAnon. A gigante de tecnologia também informou que ainda analisa outros grupos formados em conexão com o protesto do Canadá. (Com agências internacionais).

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