Cidades

Bocas de lobo

As bocas de lobo são as aberturas que encontramos nas guias e sarjetas. Não as confunda com bueiros, que são as travessias de estradas e ferrovias. Vejo constantemente na TV os jornalistas comentarem de bocas de lobos entupidas chamando-as de bueiros. Como não existe norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), existem sempre dúvidas a respeito das bocas de lobo.
 
A primeira é a abertura máxima na boca de lobo, que deve ser inferior a 15 cm, o tamanho da cabeça de uma criança. Vários órgãos americanos estabelecem que a abertura sempre deve ser inferior a 15 cm. Loteadores experientes, por sua vez, estabelecem uma abertura máxima de 7,5 cm.
 
Infelizmente, não é isso que vemos no Brasil. Basta você olhar as bocas de lobo, quando parar em um sinaleiro, em uma esquina, e ver que existem aberturas de até 0,70 m, de forma que uma pessoa pode ser facilmente sugada para dentro da boca de lobo.
 
No Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-SP), quando fui Conselheiro e Presidente da Comissão de Meio Ambiente, vi dois casos de pessoas que morreram em boca de lobo. Quem teve que arcar com os custos não foi a Prefeitura e nem a concessionária da rodovia, mas o engenheiro responsável por aquele trecho da estrada ou daquela área. O conselho que damos é que se faça uma descrição das bocas de lobo que estão irregulares, isto é, com aberturas maiores que 15 cm, e que se envie um memorando à chefia e guarde uma cópia em casa, para se defender em caso de indenização por fatalidades.
 
Outra observação sobre bocas de lobo é que muitos projetistas se esquecem de calcular a velocidade da água na guia e na sarjeta, que deve ser inferior a 3,0 m/s ou 3,5 m/s para evitar erosão e derrubada do pedestre.
 
Também não existe, no Brasil, critério para lançamento de águas pluviais de um lote na guia e sarjeta e, normalmente, são feitas várias tubulações de cerca de 50 mm. Mas qual seria um critério? Nos Estados Unidos, algumas cidades adotam como lançamento máximo a vazão máxima coletada por uma boca de lobo, que é de 50 L/s. Caso esta marca seja ultrapassada, deverá ser feito um poço de visita na rede de águas pluviais para lançamento na galeria e não na rua.
 
Outra dúvida muito constante é o nome boca de leão, que é usado em vários casos. Uma boca de lobo junto com uma calha é chamada de boca de leão, mas alguns usam simplesmente para uma simples grelha.
 
A quantidade de bocas de lobo que podem ser colocadas continuamente, nos desenhos da Prefeitura de São Paulo, é de três unidades, mas já vi sete bocas de lobos seguidas em ruas largas. Não conheço nenhum critério oficial e o ideal é que se faça uma padronização das bocas de lobos junto com as grelhas.
 
Plínio Tomaz é engenheiro, especialista em saneamento básico e superintendente adjunto do Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) de Guarulhos 
 

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