A Selic em nova mínima histórica, a 2,25% ao ano – e com a possibilidade, mantida ontem pelo Copom, de novo corte de juros – colocou o Ibovespa em terreno positivo pela terceira sessão consecutiva, em alta de 0,60%, a 96.125,24 pontos, apesar do desempenho lateralizado ou negativo das bolsas do exterior nesta quinta-feira, marcada também por avanço do dólar no Brasil em meio à ressurgência do risco político, após a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. Investigado no inquérito que apura a prática de rachadinhas na Alerj, Queiroz foi detido no início da manhã em Atibaia (SP), em casa de Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro.
Para abrandar as chamas em outra frente, o presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta tarde, em vídeo ao lado de Abraham Weintraub, que o ministro da Educação deixará o cargo para ocupar uma diretoria no Banco Mundial. Um dos mais emblemáticos integrantes da ala ideológica do governo, o ministro estava sob pressão desde que veio a público o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, na qual se referiu a ministros do Supremo Tribunal Federal como "vagabundos" que, no seu entendimento, deveriam estar presos. Ontem, o STF decidiu manter Weintraub no inquérito sobre as fake news – o ministro da Justiça, André Mendonça, tinha apresentado pedido de habeas corpus para que ele fosse excluído do processo.
Enquanto os índices de Nova York se mantinham em baixa moderada, o Ibovespa limitou um pouco os ganhos após o anúncio feito por Bolsonaro – antes, apontava ganho de 0,77%, oscilando para baixo de 0,5% após o vídeo presidencial. No entanto, o fluxo para a B3, assim como ontem, contribuiu para o avanço do índice de referência, que se reaproximou hoje, um pouco mais, dos níveis de encerramento dos dias 9 (96.746,55) e 8 de junho (97.644,67 pontos), os dois melhores desde 6 de março (97.996,77), quando o Ibovespa fechou pela primeira vez abaixo dos 100 mil pontos no ano.
Na semana, o Ibovespa acumula ganho de 3,59%, elevando o do mês a 9,98%, enquanto no ano limita agora as perdas a 16,88%. Em um mês, o avanço é de 18,39%.
O giro financeiro desta quinta-feira totalizou R$ 27,7 bilhões, com o índice tendo oscilado entre mínima de 94.697,53 e máxima de 97.109,54 pontos. Assim, no intradia, o Ibovespa voltou a testar hoje a linha de 97 mil pontos, tendo encontrado resistência na casa de 97,6 mil em três sessões consecutivas, entre os dias 8 e 10 de junho, após ter chegado aos 97,355 mil no intradia de 5 de junho.
"O mercado continua resiliente aqui – a política teve muito pouco efeito pela manhã, um ruído. Teremos mais um corte na Selic – como dito, residual, ou seja de 0,25% -, provavelmente na próxima reunião, em um mundo com liquidez absurda, a gente com juro real zerado e ainda com espaço para um corte. Temos um fluxo de pessoas chegando na Bolsa, e isso tem crescido fortemente", diz Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante, chamando atenção para uma situação global, de "valuation versus fluxo", considerando precificações em certos casos já esticadas – quando "o fundamento já começa a não justificar preços muito mais altos" em Bolsa. "O fluxo deve continuar a comandar nos próximos meses e anos", acrescenta.
Entre as empresas, em dia negativo para quase todo o setor de bancos, destaque para Itaú Unibanco, em alta de 3,92% no fechamento – o quinto melhor desempenho entre os componentes do Ibovespa, superado apenas por BTG (+9,12%), Cielo (+8,69%) e SulAmérica (+4,55%). As ações do Itaú reagiram a relatório do BTG Pactual no qual se avalia que a XP corresponde a 51% do que seria o valor do banco, embora este seja detentor de 46% da empresa – e sobre a qual tem uma opção de compra de mais 12,5% em 2022. O BTG destacou também que o valor da XP se multiplicou por dez desde a compra feita pelo Itaú, em 2017.
As ações de commodities também tiveram desempenho misto ao final da sessão, com Petrobras ON em alta de 1,57% e a PN, de 0,75%, enquanto Vale ON cedeu 0,05%. Na ponta negativa do Ibovespa, Multiplan caiu 3,45% e Cemig, 3,07%.