Apesar do ajuste nesta última sessão, abatida por convergência negativa entre o doméstico e o exterior, o Ibovespa emendou a terceira semana de ganhos, que elevam a 12,87% a recuperação observada no mês, após o revés colhido no intervalo entre agosto e outubro. Faltando seis sessões para o fechamento de novembro, o avanço supera até aqui, com certa folga, o desempenho de abril quando, vindo da queda livre de 29,90% em março, o Ibovespa subiu 10,25%.
Hoje, o índice bambeou mas, ao final, conseguiu sustentar no fechamento a linha de 106 mil pontos, marca acima da qual se manteve nos últimos cinco encerramentos, vindo de 104.723,00 na semana passada. Nesta sexta-feira, terminou em baixa de 0,59%, aos 106.042,48, com máxima na sessão a 106.763,96 pontos. Na semana, experimentou os 107.248,63 no encerramento do dia 17, em seu melhor nível desde 21 de fevereiro, véspera da correção posterior ao carnaval. No ano, o Ibovespa cede agora 8,30%, após avanço de 1,26% nesta semana, o terceiro consecutivo, estendendo ganho de 3,76% e 7,42% nas anteriores.
Bem mais fraco do que os extraordinários volumes observados no mês – em duas ocasiões acima de R$ 50 bilhões -, o giro financeiro ficou limitado hoje a R$ 24,4 bilhões, em conformidade ao padrão da B3. Na mínima do dia, o índice caiu a 105.680,28 pontos, refletindo, assim como o dólar e os juros futuros, a piora da percepção sobre a situação fiscal do País, após o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter levantado na noite de ontem, em apresentação a investidores, a possibilidade de vender reservas para abater dívida.
Os efeitos da fala foram mitigados nesta tarde pelo secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, ao observar que a gestão das reservas cabe ao Banco Central. "A fala do ministro Guedes entrou em contexto de uma gestão macroeconômica mais integrada e melhor desenhada. É esse o entendimento que temos", justificou. Ainda assim, Waldery confirmou que, caso o BC decida de fato tomar ações nessa direção, haverá um impacto positivo importante sobre a dívida bruta. "Sobre a venda de reservas quem fala é o BC, e sobre ficar atento ao nível de endividamento se expressa o Ministério da Economia", concluiu.
Permanece, contudo, a sensação de que a equipe econômica, no debate público, busca testar reações a caminhos possíveis para 2021, ano em que a trajetória da dívida continuará a ser ponto central na gestão das expectativas sobre as contas públicas, e no qual a concessão de auxílios e estímulos ainda permanecerá essencial à sustentação da atividade e do consumo.
Para piorar, a falta de diálogo entre o governo Trump e a oposição democrata, a dois meses da transferência de poder nos EUA, contribui para a cautela neste fechamento de semana, moderadamente negativo em Wall Street. As notícias positivas que emergiram nas últimas duas semanas, sobre as vacinas em desenvolvimento avançado, deram fôlego ao apetite por risco, mas tal movimento começa a dar sinais de cansaço ante a realidade imediata, de retomada de distanciamento social na Europa e de falta de controle sobre a progressão da pandemia nos EUA – com sinais de recrudescimento também no Brasil.
"Os mercados estão tentando descobrir se a incerteza de curto prazo produzirá retração significativa nas ações. A escalada da pandemia está pressionando o Congresso (americano) a aprovar pacote de estímulo com benefícios federais a desempregados e ajuda a pequenas empresas. O pedido incomum do secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, para que o Fed devolvesse algum dinheiro surpreendeu a todos", escreve em nota Edward Moya, analista da OANDA em Nova York, comparando a posição de Mnuchin ao personagem "Grinch", uma criatura verde que odeia o espírito natalino. "Algumas partes do país estão prestes a ver o pior da Covid-19 e agora não parece ser o momento de retirar suporte", diz o analista.
Apesar da moderação na euforia, o mercado está mais otimista sobre o desempenho do Ibovespa no curtíssimo prazo. O entusiasmo imediato tem relação com o fluxo estrangeiro, que ganhou empuxo desde a eleição americana, no início do mês. Após ter se mantido acima de R$ 2 bilhões em cinco sessões de novembro, a série de aportes prosseguiu ainda sem interrupções no mês, anteontem, de acordo com os mais recentes dados, divulgados hoje pela B3. Na quarta-feira, 18, os estrangeiros colocaram, em termos líquidos, mais R$ 965 milhões no mercado à vista – o 12º saldo diário positivo seguido. No entanto, foi a primeira sessão desde o último dia 6 em que o ingresso estrangeiro ficou abaixo de R$ 1 bilhão.
Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, observa que o superávit estrangeiro na B3 em novembro, agora a R$ 25,726 bilhões, supera o saldo negativo, de R$ 24,2 bilhões, registrado no auge da crise, em março – e é também o maior da série histórica mensal, que retroage a 1995. Tal fluxo comprador contribui para manter viva a possibilidade de o Ibovespa recuperar, em breve, a linha de 110 mil pontos, acrescenta o analista, apesar das dificuldades internas, "sem solução efetiva do governo para o quadro fiscal".
Após um avanço de 29,24% ontem, quando foi impulsionada pela aquisição de parcela de dois campos no pré-sal, as ações da PetroRio devolveram hoje parte do ganho, ao fechar em baixa de 6,07%, na ponta negativa do Ibovespa na sessão, à frente de Gol (-3,91%) e Ecorodovias (-3,44%). As ações da Petrobras tiveram desempenho moderadamente negativo (PN -0,71% e ON -0,61%), enquanto Vale ON obteve ganho de 1,06% na sessão. Os bancos fecharam em baixa, com perdas que chegaram a 3,30% (Santander) nesta sexta-feira. Na face positiva do Ibovespa, destaque para Pão de Açúcar (+4,55%), IRB (+4,34%) e Cielo (+3,45%).