Estadão

Bolsa fecha em baixa de 1,25%, e acumula perda de 1,72% na semana

Pelo terceiro dia, o Ibovespa voltou a registrar variação superior a 1% no fechamento, alternando perda e ganho nestas últimas sessões, nas quais chegou a buscar âncora na relativa melhora de dados econômicos, como os de varejo e em menor medida o IPCA, em um cenário político que tem se mostrado mais acidentado, com a ofensiva da CPI da Covid sobre tentativas de intermediação de vacinas no Ministério da Saúde, envolvendo até reverendo e cabo da PM. Hoje, o índice fechou em baixa de 1,25%, a 125.427,77 pontos, entre mínima de 124.310,06, a menor para o intradia desde 28 de maio (124.284,00), e máxima de 127.012,57 pontos, da abertura.

O giro financeiro ficou em R$ 33,6 bilhões e, na semana, o Ibovespa acumulou perda de 1,72%, após leve ganho de 0,29% na anterior, que havia interrompido três perdas semanais em sequência. No mês, o Ibovespa cede 1,08%, com ganhos no ano a 5,39%. O dia também foi negativo no exterior, com perdas mais concentradas na sessão asiática, mas que se espraiaram ao longo desta quinta-feira para os mercados europeus e, depois, aos dos Estados Unidos. Em Nova York, as perdas atingiram 0,86% (S&P 500) no fechamento, com a elevação do VIX, considerado a métrica do medo em Wall Street, refletindo o avanço da volatilidade.

"Logo na madrugada, veio este sinal do BC da China de que não vai elevar, pelo contrário, pode mesmo cortar os juros, em indicação de que a economia talvez não esteja em recuperação tão acelerada quanto deseja o governo de lá. Aqui, o IPCA de junho levou os juros de curto prazo a fecharem um pouco pela manhã, mas isso se perdeu ao longo do dia, em que os ruídos políticos assumem agora aspecto de crise institucional com o posicionamento das Forças Armadas", diz Thomás Gibertoni, analista da Porto Fino Multi Family Office.

Ele acrescenta que Bolsa e câmbio têm reagido a cada fala e desdobramento relacionados tanto à nova fase da reforma tributária – recebida pelo mercado como aumento de carga para as empresas – quanto aos ruídos políticos domésticos e à orientação sobre os estímulos monetários, desde o exterior, onde se acompanha também a evolução da variante Delta do coronavírus. Assim, com a passagem do mês, o dólar à vista saiu em pouco tempo de nível inferior a R$ 5 para o de R$ 5,31 visto na máxima de hoje, enquanto o Ibovespa teve correção de 5 mil pontos, saindo dos 130 mil em junho para os 125 mil, observa Gibertoni.

"Dia estranho para os mercados financeiros. Pela manhã, o VIX tinha alta de 27,1%, a 20,59 pontos, acima daquela linha sempre monitorada, de 20 pontos, em tom bem ruim. Os planos do BC chinês de injeção de recursos em bancos locais são um sinal de desaceleração da segunda maior economia do mundo. A variante Delta não é nenhuma novidade para o mercado, mas também continua produzindo efeito, pelo potencial para afetar a retomada econômica", observa Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.

No Brasil, principal dado do dia, o IPCA mostrou em junho avanço de 8,35% em 12 meses, o maior desde setembro de 2016. Ainda assim, houve desaceleração na leitura de junho (0,53%) ante a de maio (0,83%) – contudo, junho teve a maior leitura para o mês desde 2018 (1,26%), refletindo então a greve dos caminhoneiros. "O número (de junho) reforçou as apostas de um aumento de 1 ponto porcentual na próxima reunião (do Copom), em agosto, ao passo que o mercado já precifica na curva de juros que a Selic chegará em 7% ainda este ano, lembrando que essa previsão era apenas para o ano que vem", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Para além dos dados econômicos, os ruídos políticos ganharam novo tom desde ontem à noite, com o envolvimento do Ministério da Defesa no entrevero entre a CPI da Covid e o presidente Jair Bolsonaro, que começa a respingar em militares com atuação recente em cargos no Ministério da Saúde, por onde também transita o Centrão. Nesta tarde, o comando da CPI entregaria uma carta ao presidente Bolsonaro em que pediria manifestação do Planalto sobre as acusações apresentadas pelos irmãos Miranda à comissão – Bolsonaro tem se mantido em silêncio sobre a questão, que suscitou abertura de investigação sobre eventual crime de prevaricação.

A temperatura entre o presidente Bolsonaro e o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), continuou elevada hoje: Bolsonaro acusou Aziz de ter desviado R$ 260 milhões do Amazonas, com base na investigação "Maus Caminhos", de 2016, feita pelo Ministério Público sobre desvios da Saúde no Estado; Aziz respondeu que não há fatos que comprovem nada contra si. "Não misturei Forças Armadas com alguns que estão a serviço desse governo", disse também o senador, nesta quinta-feira, após ter se referido a "banda podre" das Forças Armadas no dia anterior, em sessão na qual decretou a prisão de um ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias.

O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse hoje não ter dúvida de que Elcio Franco, coronel que foi secretário-executivo do Ministério da Saúde durante a gestão do general Eduardo Pazuello, será um dos primeiros indiciados da comissão.

Assim como nas duas sessões anteriores, refletindo as modulações sobre a percepção de risco, a correção de hoje nas ações ocorreu em bloco, com apenas sete ações do Ibovespa sendo poupadas do movimento, em alta no fechamento, com destaque para shoppings: Iguatemi (+1,74%), BR Malls (+0,50%), Lojas Renner (+0,34%), BR Distribuidora (+0,21%), Multiplan (+0,13%), Suzano (+0,05%) e JBS (+0,03%). Na ponta negativa, CSN fechou em baixa de 4,42%, à frente de Sul América (-3,92%), WEG (-3,69%) e Locaweb (-3,56%). As empresas e setores de maior peso também fecharam o dia no vermelho, como Petrobras (PN -2,00%, ON -1,98%), apesar da alta do petróleo na sessão, e Vale ON (-0,39%). Entre os grandes bancos, as perdas chegaram hoje a 1,42% (Bradesco ON).

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