Bolsonaro sai às ruas em desafio a Mandetta

Um dia após o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pedir, em reunião tensa, que não menosprezasse a gravidade da pandemia do novo coronavírus em suas manifestações públicas, o presidente Jair Bolsonaro foi às ruas na manhã deste domingo. Ele visitou vários comércios locais ainda abertos em Brasília e cumprimentou populares. Houve aglomerações para tirar selfies com o presidente. "O povo quer trabalhar. É o que eu tenho falado desde o começo. Vamos tomar cuidado, a partir dos 65 fica em casa", disse Bolsonaro, que completou 65 anos no dia 21.

Na volta ao Palácio da Alvorada, o presidente afirmou, sem dar detalhes, que estava "com vontade" de baixar um decreto hoje liberando que pessoas de todas as profissões possam trabalhar durante a pandemia, e não só as que fazem serviços essenciais. "O vírus tá aí, vamos ter de enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, pô, não como moleque. É a vida, todos nós vamos morrer um dia", disse a jornalistas. "Tem mulher apanhando em casa. Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Como é que acaba com isso? Tem que trabalhar."

Mais tarde, em vídeo divulgado nas redes sociais, o presidente recomendou que "todos os políticos" saiam às ruas para, em sua avaliação, entender a realidade do País. "Estive em Ceilândia e Taguatinga. Fui ver na ponta da linha como está o nosso povo. E em especial os informais, os mais atingidos por essa onda de desemprego. Uma experiência que recomendo a todos os políticos do Brasil", disse Bolsonaro. Para gravar o vídeo, buscou orientação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Em uma reunião no sábado, como revelou a colunista do Estado Eliane Cantanhêde, Mandetta fez um alerta ao presidente e aos demais ministros: "Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas?" Em outro momento, Mandetta deixou claro que, se o presidente insistisse em ir às ruas, seria obrigado a criticá-lo. E Bolsonaro rebateu que, nesse caso, iria demiti-lo. Depois, em entrevista coletiva, o ministro condenou atos pela abertura do comércio e disse que "os mesmos que fazem carreata vão ficar em casa daqui a duas semanas".

Procurado ontem para se manifestar sobre o tour do presidente, o Ministério da Saúde respondeu que não comentaria.

A primeira parada de Bolsonaro foi em um posto de combustíveis. Desceu do carro para tirar fotos com frentistas e conversou com populares. Também visitou farmácia, padaria e uma mercearia no Sudoeste. No Hospital das Forças Armadas, conversou com médicos e enfermeiras.

O comboio presidencial ainda passou por Ceilândia e Taguatinga, regiões administrativas do Distrito Federal. Em meio a apoiadores, Bolsonaro afirmou que o desemprego também pode ser uma doença. "O povo tem que trabalhar ou a fome vem aí. O Brasil não pode parar", disse em um açougue.

Bolsonaro defendeu que sejam tomadas medidas de precaução contra a doença, mas principalmente para idosos e pessoas do grupo de risco. Afirmou que estes casos, em que "a gripe" pode ser mais grave, serão tratados com hidroxicloroquina. O medicamento, porém, ainda não tem sua eficácia comprovada contra o coronavírus.

Apesar de falar em medidas de precaução, Bolsonaro não seguiu todas as recomendações do Ministério da Saúde. O presidente brincou todas as vezes em que populares chegavam para cumprimentar com apertos de mãos, dizendo que "não podia". Mas ficou em meio a aglomerações para tirar fotos.

Nas redes sociais, o tour de Bolsonaro foi alvo de críticas de deputados. Marcelo Ramos (PL-AM) apontou "clara provocação" a Mandetta. Para Marcelo Freixo (PSOL-RJ), faltou "bom senso". Paulo Pimenta (PT-RS) chamou Bolsonaro de "Capitão Corona". Ex-aliado, Alexandre Frota (PSDB-SP) disse que Bolsonaro estaria "espalhando o vírus" por Brasília.

O distanciamento social e o isolamento são medidas recomendadas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

<b>Twitter</b>

Dois vídeos postados na conta oficial do presidente Jair Bolsonaro no Twitter foram excluídos ontem à noite por violar as regras da rede social. Nas postagens, o presidente aparece descumprindo orientações do Ministério da Saúde, pedindo que a população volte à vida normal e o comércio seja aberto. A plataforma conta agora com medidas que preveem a exclusão de conteúdos que neguem ou distorçam orientações dos órgãos de saúde em relação ao combate e prevenção ao novo coronavírus.

Em um dos vídeos excluídos, o presidente aparece ao lado de um vendedor de churrasquinho de Taguatinga, que reclamou da paralisação do comércio. No lugar do vídeo, o Twitter disponibiliza um link com as regras da plataforma. O Palácio do Planalto informou que não comentará a decisão da rede social. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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