O nome do padre Maximiano Pelarin Neto está na boca do povo de Pereira Barreto, cidade de 25 mil habitantes a 600 km de São Paulo. Passou a ser santo para uns e herege para outra parcela da população por causa do sermão feito nas missas de fim de ano sobre um caso de corrupção local investigado pelo Ministério Público.
Parece que o pecado foi cometido por 11 vereadores da cidade e 13 funcionários da Câmara Municipal hoje acusados de manter um esquema com funcionários fantasmas na Casa por um ano. Eles respondem a 13 ações civis públicas, por improbidade administrativa, e a três ações criminais, por formação de quadrilha, falsidade ideológica e peculato.
“Eles criaram cargos de confiança e ainda forjaram controle de frequência para constar presença dos servidores que não compareciam ao trabalho”, disse o promotor Robson Alves Ribeiro, autor das ações, que cobram R$ 1,6 milhão.
Apesar de padre Maximiano afirmar que não citou nomes e nem acusou nenhum dos vereadores de relação com fantasmas desde o altar da Igreja São Francisco Xavier, seu castigo caiu como um raio sobre sua cabeça. Nove dos 11 vereadores da Câmara aprovaram uma moção de repúdio endereçada ao bispo que o chefia, pedindo sua punição, por acusá-los sem provas e de fazer discurso político em local impróprio.
Aos céus ele roga e dos inquisidores ele se defende, reforçando que orar sempre foi também uma forma de fazer política, desde Confúcio e Brahma, quando Jesus nem pensava em pescar. “Quem está com a investigação é o Ministério Público, mas também é minha missão como sacerdote, colocar a população a par da situação”, justificou o padre.
O presidente da Câmara, Laerte Venâncio Alves (PR), não entende assim. Ele diz que a moção é pelo fato de o padre “falar de política em um lugar destinado à oração”. “Ele deveria esperar a sentença para dizer que os vereadores são desonestos e que há corrupção na Câmara”, aconselhou Alves, embora a Justiça tenha exonerado 11 assessores e bloqueados os bens dos acusados para garantir o ressarcimento ao erário.
O bispo de Jales (SP), dom Luiz Demétrio Valentini, disse que vai esperar o padre retornar das férias para ver o que houve.
Enquanto isso, os moradores se mobilizam. Centenas deles fizeram uma carreata, poucos dias atrás, de apoio ao padre. “O padre tem toda a razão de falar sobre esse assunto com seus fiéis”, defendeu o comerciante Roberto Oliveira, dono de uma pequena loja no centro da cidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.