O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou nesta quinta-feira, 9, que o parcelado sem juros no cartão de crédito é responsável no Brasil, em parte, pelo alto custo no rotativo. Ele não defendeu, porém, a simples eliminação do parcelado sem juros no cartão.
Os dados mais recentes do Banco Central, relativos a fevereiro, mostram que o juro médio do rotativo do cartão de crédito está em 322,6% ao ano em operações para pessoas físicas. No caso do rotativo não regular – que reúne operações em que nem o valor mínimo da fatura do cartão foi pago – o juro médio é de 342,4% ao ano. Este é o maior custo entre todas as modalidades de crédito disponíveis.
Ao tratar da questão, Campos Neto afirmou que, antes da crise provocada pela covid-19, o Banco Central fez uma análise de todos os produtos de crédito com maiores dificuldades para queda de juros. Segundo ele, dois produtos preocupavam: cheque especial e rotativo do cartão de crédito. Estes dois produtos são, justamente, os que os brasileiros usam em momentos de emergência financeira, como o atual.
Desde janeiro, o juro do cheque especial está limitado a 151,82% ao ano. Para Campos Neto, este problema foi endereçado. No caso do cartão, porém, a anomalia, que é "muito maior que a do cheque especial", permanece.
"A gente chama no Brasil de cartão de crédito, mas ele poderia ser chamado de cartão de débito com parcelado sem juros", afirmou Campos Neto. Isso porque, segundo ele, "em todo produto cartão de crédito no mundo, há uma massa que é financiada, que é o crédito, que é muito grande em relação ao total do que é financiado". "Ela beira em torno de 70% e 85%. No Brasil, ela é 15%."
O presidente do BC afirmou que, em função disso, o brasileiro tem a vantagem de poder comprar o produto e pagar 30 dias depois, ganhando o período sem juros. Na prática, não é um operação de financiamento. "Além disso, foi se desenvolvendo o parcelado sem juros. Hoje, o cartão de crédito no Brasil é mais um cartão de débito, porque a massa que você usa para financiar é baixa. E ainda há o risco do parcelado sem juros, que acaba sendo embutido no preço de alguma forma", descreveu.
Para Campos Neto, esta dinâmica – de um "pedaço de crédito muito pequeno, com operacional muito grande" – faz com que os juros do rotativo subam.
Outro fenômeno, segundo ele, é que apesar da diminuição dos juros ao longo dos meses, o número de parcelas nas operações com cartão não caíram. "Ocorreu o contrário", disse Campos Neto. "Quem decide o número de parcelas é o lojista, mas quem fica com o risco é o banco. O número de parcelas começou a aumentar", disse.
Campos Neto citou, inclusive, casos de vendas de motocicletas em 12 vezes no cartão, sem juros. "Como tem um risco maior para o banco, ele começa a captar isso", disse, ao justificar os juros mais elevados no rotativo.
De acordo com Campos Neto, uma das formas de reduzir o custo no rotativo é eliminar ou diminuir a parcela sem juros das operações. Ele afirmou, no entanto, que nunca propôs acabar com o parcelado sem juros.
Campos Neto concedeu no período da tarde desta quinta entrevista por videoconferência ao portal <i>UOL</i>.