O PSDB decidiu deixar o bloco de apoio a Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pelo comando da Câmara e adotar uma posição de "neutralidade", a exemplo do que já havia feito neste domingo, 31, o DEM. A mudança representa novo revés ao emedebista, que assiste a uma debandada de aliados na véspera da eleição na Casa, nesta segunda-feira (1).
A saída das duas siglas do bloco de Baleia é resultado da ofensiva do Palácio do Planalto em favor de Arthur Lira (Progressistas-AL), líder do Centrão e nome de Jair Bolsonaro para comandar a Câmara nos próximos dois anos. Como mostrou o Estadão, o governo tem oferecido cargos e recursos extras aos deputados para se alinharem à candidatura governista.
A decisão da Executiva do DEM de desembarcar do bloco de apoio de Baleia e a disposição de outras siglas de seguir o mesmo caminho levaram o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a ameaçar aceitar um pedido de impeachment contra Bolsonaro. A eleição que vai escolher a nova cúpula da Câmara e do Senado está marcada para esta segunda-feira.
Assim como no DEM, deputados pró-Lira no PSDB formam maioria na bancada. Por isso, poderiam forçar o partido a também entrar no bloco do candidato governista. Os tucanos, porém, querem evitar essa adesão. E o caminho decidido é não compor nenhum bloco.
Sem PSDB e DEM, o bloco de Baleia deixa de ser o maior na disputa. Agora, o grupo soma nove partidos e 177 deputados, mas outras siglas ainda podem sair. Solidariedade e PT discutem também deixar de apoiar o candidato de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Já Lira reúne o apoio de onze legendas e 259 parlamentares.
A formação dos blocos é importante porque é com base no tamanho de cada um que é definida a distribuição dos demais cargos na Mesa Diretora, o que inclui duas vice-presidências, quatro secretarias e vagas de suplência.
A pressão contra apoiar Lira formalmente inclui nomes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-senador e ex-deputado José Aníbal. Em mensagem encaminhada a parlamentares, Aníbal disse que há "muita boataria" e que o PSDB deve cumprir seu compromisso assumido com o emedebista. "De outro modo, é adesão ao genocida", afirmou o ex-presidente do PSDB. Ele disse também que Lira "conduz sua campanha num balcão em que, segundo reiteradas denúncias, opera assalto aos cofres públicos para obter adesões".
O governador de São Paulo, João Doria, rival de Bolsonaro, também acompanha as decisões e pressiona pelo voto em Baleia. Ele já reconheceu reservadamente que o partido não formará o bloco de Baleia. Apoiador do emedebista, Doria pretende falar publicamente sobre a decisão do partido e a possibilidade de impeachment de Bolsonaro ainda na tarde de hoje, quando concede entrevista coletiva à imprensa.
Antes, a bancada federal se reúne no final da manhã para anunciar o posicionamento, mas a liberação do voto já foi comunicada aos parlamentares previamente. Ainda assim, nomes favoráveis a Baleia dizem que será evitado um "mal maior". Eles trabalham para segurar a adesão a Lira e já admitem que vão perder a eleição com Baleia. Segundo um dirigente tucano, no mapa dos 31 votos da bancada só 13 são de Baleia.
Alas do partido querem seguir o caminho do DEM e rejeitam ficar isolados apoiando um bloco somente com legendas de esquerda, além do MDB. Fora do bloco, o partido espera apenas manter a segunda suplência na Mesa Diretora. Atualmente, a deputada Geovania de Sá (SC) representa os tucanos nesse cargo.