Opinião

Candidatos deixam de debater temas fundamentais


Os poucos brasileiros que tiveram paciência e disposição para assistir ao debate entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) domingo à noite na TV Band puderam ver dois candidatos dispostos a atacar seus oponentes, ao subirem o tom de suas perguntas e respostas. Insistiram no tema aborto, abordaram com frequência a questão das privatizações, algo que os brasileiros já cansaram de debater ainda nos anos 90, além de um ataque ou outro a possíveis irregularidades cometidos pelos dois quando estavam no poder.


Ambos perderam, entretanto, a oportunidade para discutir temas mais do que importantes para o futuro do País. Exemplos não faltam. O dólar está a R$ 1,66 e a palavra câmbio não foi pronunciada. Não precisa ser economista para entender que o real valorizado como está corrói a competitividade dos produtos brasileiros. Se persistir a tendência de queda, não demorará para que a população tenha em sua ceia de natal apenas produtos importados, como se isso fosse sinônimo de desenvolvimento. Dane-se a indústria nacional.


Com o dólar baixo, a economia brasileira atrai investidores estrangeiros, que só vêm para cá não por causa da tão propagada estabilidade. Mas sim para aproveitar os juros lunares que o país insiste em pagar. Ninguém se dá conta que esses índices estratosféricos recaem diretamente em nosso setor produtivo, atrapalhando a economia local.


Dá para entender a omissão dos dois em relação a esse tema. Serra é crítico dessa política e é possível supor que Dilma também não goste dela. Mas os dois preferem deixar para lá temendo a complexidade e a antipatia em relação a esse tipo de debate, nunca muito deglutido pela plateia.


Outro tema ignorado no debate foi a reforma política. Tanto Dilma como Serra querem mudar o quadro partidário e o sistema eleitoral, mas – mais uma vez – preferem se fingir de mortos ao não tocarem no assunto.


Dilma Rousseff já defendeu e deve instituir o voto de lista, que fortalece os partidos, mas retira do eleitor o direito de votar nominalmente em um candidato a deputado. Serra prefere o voto distrital, em que os eleitos representariam suas regiões. Neste caso, Guarulhos poderia fazer valer o fato de ser o segundo maior colégio eleitoral de São Paulo e eleger um número de deputados condizente com sua importância e não apenas esses três que foram eleitos no dia 3.


Talvez a omissão dos candidatos seja mesmo um reflexo do que os eleitores querem ver. Se é que estão realmente interessados em interferir diretamente nos destinos do País. Tanto que, enquanto os dois se digladiavam na tela da Band, a maioria dos televisores brasileiros estavam sintonizados nas outras emissoras. Zeca Camargo e Patrícia Poeta, pela Globo; os humoristas do Pânico na TV, na Rede TV; além de Sílvio Santos, no SBT; e a Fazenda, da Record, atraíram a atenção dos eleitores em um número muito superior que Dilma e Serra. Pode ser que as medições de audiência expliquem os resultados absurdos que frequentemente se vê nas eleições por aqui.


 

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