A Casa Civil deve criar uma comissão para investigar o erro assumido nesta sexta-feira, 19, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o levantamento mais completo sobre as características da sociedade brasileira, informou uma fonte. Os técnicos do instituto estão, neste momento, listando uma série de falhas e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, pasta à qual o IBGE é vinculado, já convocou coletiva.
Os erros de metodologia revelados pelo IBGE, que levaram a uma conclusão completamente diferente da anunciada ontem e que estampou hoje as primeiras páginas de todos os jornais, ocorrem apenas cinco meses depois de outro erro grave em outro instituto de pesquisas oficial, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Em abril, ao divulgar os resultados de uma pesquisa sobre violência contra a mulher, o Ipea informou inicialmente que a maioria dos entrevistados ouvidos considerava que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Oito dias depois, os técnicos do Ipea vieram a público para dizer que o resultado, que chocou a opinião pública, estava errado. O resultado havia sido o inverso.
Segundo fonte ouvida pelo Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, o governo está preocupado com o risco de descrédito que pode colocar em xeque o trabalho do IBGE. Entre as diversas atribuições do instituto está a elaboração dos principais indicadores da economia nacional: índices de inflação, de emprego, de atividade industrial, desempenho do comércio, serviços, Produto Interno Bruto (PIB), taxa de investimento. Uma falha grave como esta numa pesquisa estrutural, elaborada ao longo de vários meses, pode levar desconfiança a todo o resto.
Em abril deste ano, mesma época do erro do Ipea, a diretora de Pesquisas do IBGE, Marcia Quinstlr, pediu exoneração do cargo por não concordar com a decisão do governo de interromper as divulgações trimestrais da Pnad Contínua. A nova pesquisa passaria a nortear, no plano nacional, os indicadores do mercado de trabalho, que são medidos pelo IBGE apenas nas seis principais regiões metropolitanas do País. Outros técnicos ameaçaram também pedir demissão em solidariedade, abrindo uma grande crise no IBGE. A pesquisa, por ter abrangência muito maior do que a Pesquisa Mensal de Emprego, certamente traria dados bastante distintos dos atuais. Mas a direção do instituto alegou, na ocasião, problemas de metodologia para suspender a mudança.