Após uma abertura em alta discreta na abertura desta terça-feira, 2, o Ibovespa mudou o sinal e passou a renovar mínimas, coincidindo com o início do pregão em baixa das bolsas de Nova York. Por aqui, se não bastasse o compasso de espera dos investidores por avanços na reforma da Previdência, saíram novas informações que tendem a gerar cautela, a respeito do acordo Mercosul/União Europeia (UE). A porta-voz do governo da França, Sibeth Ndiaye, afirmou que, “por ora”, o país não está “pronto” para ratificar o acordo comercial concluído na sexta-feira entre a UE e o bloco do qual o Brasil faz parte. Às 10h50, o Ibovespa cedia 0,44%, aos 100.891,73 pontos, após a máxima aos 101.564,53 pontos.
Em resposta à porta-voz francesa, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que a declaração visa público interno (acordo UE/Mercosul) e que cabe à Comissão Europeia esclarecer à França sobre o que está no acordo. “Estamos prontos para conversar com a França ou com qualquer outro país”, afirmou. Ele também acrescentou que o Brasil está tentando ações pontuais para abrir mercados interessantes na China e que não há intenção conjunta do Mercosul sobre o país asiático. Ainda declarou que há total compromisso com redução do desmatamento à luz dos compromissos internacionais.
Quanto à reforma previdenciária, parte da bancada de policiais do PSL na Câmara dos Deputados ameaça não votar a proposta, caso as demandas da classe não sejam atendidas. O alerta vale tanto para a comissão especial quanto para o plenário da Casa, afirma o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP).
O presidente da comissão especial que analisa a reforma na Câmara, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), por sua vez, disse que a sessão para leitura do voto complementar será às 16 horas. Já o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, salientou, em evento na Suíça, que a concretização da reforma da Previdência ainda traz muitas incertezas para o mercado financeiro doméstico.
O governo tenta avançar na reforma antes do recesso parlamentar, no dia 18. “Quanto mais se prolongar, mais tende a atrapalhar os mercados”, diz o operador da mesa institucional da Renascença DTVM Luiz Roberto Monteiro, ressaltando que o exterior também não enseja empolgação na bolsa pelo menos por ora.
A expectativa é que seja feita nesta terça a leitura do relatório final da reforma da Previdência. No entanto, essa apresentação pode ser postergada para quarta ou quinta-feira, enquanto o governo tenta chegar a um acordo dentre outros fatores, sobre a inclusão ou não de Estados e municípios na proposta.
Na Europa, os ganhos são limitados por conta de preocupações com o ritmo da atividade local e com notícias de que os EUA propuseram adotar tarifas adicionais contra a União Europeia, reforça em nota o Bradesco.
Apesar do anúncio de que a Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados renovaram nesta terça-feira o corte na produção da commodity até 31 de março de 2020, as cotações da matéria-prima caem, afetando as ações da Petrobras. A alta de 1,71% do minério de ferro no porto de Qingdao, na China, que poderia beneficiar mais uma vez os papéis da Vale e empresas correlatas, não se confirma.
O ritmo de crescimento da economia doméstica continua preocupando economistas, embora o desempenho fraco não seja novidade. Nesta segunda, mais um indicador reforçou esse quadro. A produção industrial de maio ante abril caiu 0,2% e subiu 7,1% na comparação com maio de 2018. O dado mensal ficou menos negativo que a mediana das estimativas na pesquisa do Projeções Broadcast, de recuo de 0,35% na margem. Na comparação interanual, a mediana era de alta de 6,85%. Os indicadores tendem a corroborar as expectativas de queda da taxa Selic no Comitê de Política Monetária (Copom) de julho. “Tem de avançar na reforma, pois a economia está se arrastando”, diz Monteiro.