Estadão

Cazas de Cazuza volta aos palcos e mostra que músicas ainda são atuais

O poeta não morreu. O musical Cazas de Cazuza, visto por mais de 100 mil pessoas em 2000, volta aos palcos a partir deste sábado (20), no Rio de Janeiro. Uma das maiores homenagens já feitas a Cazuza (1958-1990), o espetáculo ganha nova versão com um elenco renovado. E mantém intacta a sua ideia original: dar vida às músicas e relembrar as mensagens de um dos principais nomes do rock Brasil dos anos 80 do século passado. Foi quando o cantor "explodiu", primeiro como vocalista do Barão Vermelho, depois em carreira solo.

Apesar do sucesso da sua primeira versão, Cazas de Cazuza ficou duas décadas sem ter uma nova exibição. A intenção era que voltasse aos palcos no ano passado, mas a pandemia de covid-19 obrigou os organizadores a adiar o projeto. Agora, terá suas três primeiras exibições no Vivo Rio. A partir do ano que vem, deverá ter uma turnê pelo Brasil. Duas apresentações já estão garantidas em São Paulo.

<b>Novo elenco</b>

Autor e diretor do musical, Rodrigo Pitta conta que o espetáculo é o mesmo que encantou há 21 anos. Só o que mudou foi o elenco, escolhido após centenas de audições e alguns convites. "Temos três elos que conectam o espetáculo à raiz: eu, que criei e dirigi; o Jay Vaquer, que na primeira versão era o Justo e hoje é o diretor musical – ele é um supermúsico, quatro vezes indicado para o Grammy Latino; e o Fernando Prata (que interpreta Enrico), que está com a mesma carinha. Os demais são uma turma muito legal, de vários lugares."

A trama é ambientada em um prédio de apartamentos no Leblon, zona sul do Rio, onde vivem os personagens principais. Lá estão Mia, uma jornalista casada com Enrico, um poeta desempregado. Também mora Deco, um bon vivant homofóbico, que divide o local com a promoter Bete Sampaio e o estudante de cinema judeu Justo. Há ainda o casal negro Vera e Ernesto, que perdeu um filho para aids – tema que ainda é tabu entre eles. Além deles, há Dornelles, um malandro que convida Bete para apresentar um programa sobre sexo na madruga da TV 4. Todos esses personagens dão vida às músicas de Cazuza.

Mãe do músico, Lucinha Araújo conta que não perdeu quase nenhuma das exibições do original no Canecão. Quer fazer o mesmo na nova versão, no Vivo Rio. Ela já começou a realizar seu desejo na terça-feira, quanto assistiu a um dos ensaios da peça.

"Lembro de tudo, porque ia praticamente todos os dias. Foi muito bonito, foi lindo. Essa versão vai ser ainda mais bonita, porque o Rodrigo (Pitta) está mais amadurecido", afirma. "Eu espero que esse espetáculo deixe a mesma mensagem que Cazuza deixou. Não foram só as belas canções, mas o grande legado foi a cabeça dele, os pensamentos, os recados que ele deixou e até hoje são citados. Além disso, teve a coragem de se dizer soropositivo na época em que a aids era uma maldição. Aquilo foi muito bonito, porque ele ajudou milhões de soropositivos a mostrarem a cara. Foi um serviço muito grande para o Brasil e para a juventude."

<b>Ópera-rock</b>

Cazas de Cazuza tenta ser um musical no estilo Broadway, e essa foi outra das razões que ajudam a explicar o sucesso visto em 2000. À época, espetáculos do gênero ainda eram incomuns no Brasil. O trabalho escrito e dirigido por Rodrigo Pitta inovou por levar aos palcos uma ópera-rock.

Ator na ocasião e diretor musical agora, Jay Vaquer está animado com a nova temporada. "A poesia do Cazuza tem uma mensagem que a gente precisa colocar pra frente sempre. Eu o coloco ao lado do Renato Russo (1960-1996), como caras e letristas incríveis dos anos 1980, que me influenciaram muito", afirma. "As músicas são ainda muito atuais, as coisas que são cantadas aqui são muito pertinentes. Quando cantam aqui Brasil, mostra a tua cara… Como é bom cantar isso, a gente precisa cantar isso."

O espetáculo terá sua primeira exibição neste sábado, a partir das 21h. Outras duas apresentações estão marcadas para os dias 3 e 4 de dezembro.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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