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CCBB revisa obra complexa de Kiarostami

Abbas Kiarostami convalesce de uma cirurgia gravíssima para tratar de um câncer. As informações são vagas e falam de problemas no cólon ou gastrointestinais. A cirurgia, feita em Teerã, foi agravada por um quadro de infecção hospitalar. É nesse momento delicado que o cineasta recebe a homenagem do Centro Cultural Banco do Brasil. No Rio, desde o dia 13 e até 9 de maio; em São Paulo, desde essa quarta, 20, e também até 9, o CCBB hospeda a mostra Um Filme, Cem Histórias – Abbas Kiarostami. Com curadoria de Fábio Savino, é formada por 28 filmes, incluindo raridades como o primeiro curta do diretor, O Pão e o Beco, de 1970, e o primeiro longa, A Experiência, de 1973.

Savino tem se mantido em contato com assessores de Kiarostami na capital iraniana e diz que os relatos começam a ser mais relaxantes. Os médicos teriam conseguido estabilizar a situação do paciente. Uma conta foi aberta nas redes sociais para permitir que os admiradores do grande diretor se mantenham informados, mas a língua oficial é o farsi. Sabino apressa-se a esclarecer que não se trata de uma retrospectiva completa. Faltam curtas e longas, principalmente do começo da carreira de Kiarostami. O importante, segundo o curador, é que a seleção permite uma visão abrangente da totalidade da carreira, em suas diversas fases. Delas emerge o artista ousado, que gosta de arriscar.

Houve um tempo em que Kiarostami, sozinho, parecia resumir o cinema iraniano. Os problemas de Jafar Panahi com a república dos aiatolás desviou para ele o holofote, mas não tirou o foco de Kiarostami. Além de cineasta, é poeta, autor de livros publicados, e fotógrafo. Começou no Kanoon, sigla do instituto iraniano para o desenvolvimento intelectual de crianças e adolescentes, criado ainda durante o regime monárquico do Xá. Com outros diretores de sua geração – Mohsen Makhmalbaf -, fazia um cinema inspirado no neorrealismo italiano e muitas vezes filtrado pelo olhar infantil, começou a chamar a atenção. No Brasil, foi descoberto por Leon Cakoff na Mostra. A programação exibe a trilogia formada por Onde Fica a Casa do Meu Amigo?, E a Vida Continua e Através das Oliveiras. Entronizado nos grandes festivais, venceu a Palma de Ouro em Cannes com Gosto de Cereja (ex-aequo com A Enguia, de Shohei Imamura, em 1997) e ganhou o prêmio especial do júri em Veneza com O Vento nos Levará, 1999.

Com Dez, em 2002, iniciou a fase da pesquisa com o digital, radicalizada nos planos-sequência de Cinco, seu documentário (nas bordas da ficção) dedicado a Yasujiro Ozu. Tornou-se um autor internacional, filmando na Itália (Cópia Fiel) e no Japão (Um Alguém Apaixonado), com capitais franceses. Mesmo incompleta, a retrospectiva do CCBB permite a avaliação de um autor complexo e fascinante. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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