Chegou a hora da verdade no diálogo pós-Brexit, diz União Europeia

As conversas entre a União Europeia (UE) e o Reino Unido sobre as relações pós-Brexit chegaram à "hora da verdade", com apenas algumas horas disponíveis para alcançar um acordo, disse o negociador da UE, o francês Michel Barnier, nesta sexta-feira, 18.

"Estamos na hora da verdade. Nos resta muito pouco tempo, apenas algumas horas úteis nesta negociação, se quisermos que um acordo entre em vigor em 1o de janeiro", quando Londres estará fora da união aduaneira, disse Barnier ao Parlamento Europeu.

"Temos que falar com muita sinceridade (…) Não posso lhes dizer qual será o resultado dessa reta final das negociações. E, por isso, devemos estar preparados para todos os cenários", afirmou.

Barnier também mencionou que, nesta sexta-feira, retomará as conversas com o negociador britânico, David Frost, para tentar encontrar "um acordo aceitável, em particular sobre pesca".

"Não temos certeza de que conseguiremos, se não fizermos todos um esforço real e concreto", insistiu.

Barnier fez referência à questão dos direitos de pesca e do acesso das frotas europeias às águas territoriais britânicas, uma questão que se tornou o principal obstáculo para um acordo.

"Não acho que seja justo, ou aceitável, que os pescadores europeus não tenham acesso a essas águas", disse Barnier.

Em outra parte de seu discurso, Barnier responsabilizou a equipe britânica por fazerem as negociações chegarem a esse ponto crítico.

"Os britânicos decidiram o prazo mínimo em que estamos presos agora. Em junho, rejeitaram qualquer forma de extensão da transição (…) e estabeleceram 31 de dezembro como a hora da verdade", apontou.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, conversaram por telefone na noite de quinta-feira. Na conversa, ambos admitiram as dificuldades para alcançar um acordo.

Em uma breve declaração, Von der Leyen disse que superar as persistentes divergências seria "muito difícil". Johnson afirmou, por sua vez, que é "muito provável" que as negociações fracassem.

Reino Unido diz que chances de acordo são inferiores a 50%
O ministro sênior do Reino Unido, Michael Gove, avaliou as chances de alcançar um acordo comercial com a União Europeia (UE) em menos de 50% nesta quinta-feira, 17, apresentando um tom pessimista a apenas duas semanas de o Reino Unido concluir sua saída do bloco econômico.

Sua previsão pessimista contrastou fortemente com os comentários do negociador-chefe da UE, sugerindo que havia um bom progresso. Ambos os lados estão tentando evitar um turbulento fim após quatro anos de difíceis negociações.

Aumentava o otimismo de que um acordo estava próximo para manter o comércio de mercadorias, que representa metade do comércio anual entre a UE e o Reino Unido, no valor de quase um trilhão de dólares ao todo, livre de tarifas e cotas após 31 de dezembro.

Mas ambos os lados dizem que há lacunas a serem preenchidas e não está claro se qualquer um dos dois faria mudanças o suficiente para abrir caminho para um avanço.

Fontes diplomáticas da UE disseram que os 27 países-membros receberão uma atualização na sexta-feira, embora tenham sugerido que qualquer decisão sobre o acordo provavelmente será no sábado.

A ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, disse que as negociações entraram no "túnel" – um jargão da UE para a fase final e sigilosa do tudo ou nada – e o negociador-chefe da UE, Michel Barnier, tuitou: "Bom progresso, mas os últimos obstáculos permanecem".

Mas Gove, que supervisionou a implementação de um acordo pelo divórcio anteriormente, disse a um comitê parlamentar: "Acho que, lamentavelmente, há mais chances de não conseguirmos um acordo".

Ele colocou a probabilidade em "menos de 50%", acrescentando que, se o parlamento britânico não tiver tempo de aprovar o acordo em lei até 31 de dezembro, "então o tempo se esgotou e nenhum acordo teria sido alcançado e nós estaremos em um mundo onde negociaremos nos termos da OMC (Organização Mundial do Comércio)".

O fracasso em alcançar um acordo sobre o comércio de bens enviaria ondas de choque nos mercados financeiros, prejudicaria as economias europeias, afetaria as fronteiras e interromperia as cadeias de abastecimento na Europa e outros.

Mas os operadores de câmbio pareciam ter uma visão otimista sobre as perspectivas de um acordo. Pouco depois de Gove falar, a libra esterlina estava abaixo das suas máximas, mas ainda subia cerca de 0,5%, a 1,3578, contra um dólar mais fraco.

O primeiro-ministro Boris Johnson, o rosto da campanha do referendo do Brexit em 2016, há muito diz que não irá aceitar um acordo que não respeite a soberania do Reino Unido depois de vencer uma eleição no ano passado com a promessa de "retomar o controle".

Gove disse que algumas das diferenças restantes vão "para o cerne do mandato (do governo)".

Um funcionário da UE que não quis se identificar afirmou que as divergências sobre a questão da pesca ainda não foram resolvidas, mas que intensas conversas sobre um caminho a se seguir em relação às cotas e a um período de transição estão em andamento.

Dois diplomatas da UE e uma autoridade do bloco disseram nesta quinta-feira que não esperam um novo acordo comercial com o Reino Unido até sexta-feira. (Com agências internacionais)

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