Mundo das Palavras

Chico encontra a francesa que ele adorava

Chico confessa que adorava Jeanne Moreau, diante das câmeras, no documentário Cinema, dirigido por Roberto de Oliveira.

Mas, que jovem do planeta resistia à atriz, nos anos 60? Seu rosto e seu talento davam identidade visual e artística à Nouvelle Vague, aquele movimento de cineastas moços e transgressores das regras do cinema hollywoodiano, mercantil e conservador. Foram eles que postularam e conquistaram o direito de criar uma narrativa cinematográfica original e livre. Para, com ela, retratar, em seus filmes, o cotidiano dos jovens rebeldes, cultivadores do amor livre, reunidos, em Maio de 1968, na cidade de Paris. 

Como escreveram em julho de 2017, quando Jeanne morreu, no jornal português Público, outra mulher, Joana Cardoso, e seu colega de Redação, Luís Oliveira, Jeanne era uma atriz que “transportava no olhar e na expressão os traços indecifráveis e duros – mas quase sempre serenos – de uma sombra ou de um luto sem objeto preciso”. Os dois jornalistas, em seguida, decifraram o mistério com o qual aquele olhar seduzia jovens como Chico. Lembraram que, afinal, “o erotismo e a morte vão bem um com o outro, como sabemos desde há muito”.

Se Chico, com sua adoração por Jeanne Moreau, não era original, naquela época, no entanto, na década seguinte, entre milhões daqueles jovens encantados pela atriz, ele teria um privilegio até então desfrutado unicamente por um outro músico. Que músico! Ninguém menos que Miles Davis. Jeanne havia se deixado fotografar, com Davis, num intervalo das filmagens de “Ascensor para o cadafalso” quando, supostamente, aprendia a tirar sons de um trompete. Mas, Davis, naquele instante, em que os dois eram dirigidos por Louis Malle, estava mesmo apaixonado era por Juliette Gréco, musa do existencialismo francês. 

Já Chico, estava ainda fascinado por Jeanne, em 1973, quando foi introduzido no quarto da atriz, num hotel do Rio de Janeiro, para mostrar a ela uma canção sua. E, mais ainda, para ensiná-la a cantá-la, num filme – “Joana, a francesa”, dirigido por Cacá Diegues. Logo, ela e a música dele, que iriam ser exibidas, numa tela, semelhante àquelas nas quais Chico viu Jeanne em filmes de Louis Malle, François Truffaut, Michelangelo Antonioni, Wim Wenders e Orson Welles.

Esta experiência emocionante de Chico está em dois vídeos postados no Youtube. Para assisti-los, basta digitar, no campo Pesquisar do link desta plataforma de compartilhamento de vídeos:

1º) Jeanne canta Chico. 

Nele, as cenas do filme de Diegues em que Jeanne canta a música de Chico, no papel de uma cafetina, dona de cabaré, no Nordeste. 

2º) Chico Buarque: Joana Francesa (DVD Cinema). 

Tem o depoimento de Chico. No final, ele canta a música, com arranjo e imagens belíssimos.

Posso ajudar?