Estadão

China aceitou enviar armas à Rússia, dizem documentos vazados dos EUA

A divulgação de documentos secretos do Pentágono teve dois importantes desdobramentos nesta quinta, 13. Primeiro, a revelação de um relatório de inteligência dos EUA sugerindo que a China aceitou enviar armas à Rússia, maior temor do Ocidente no esforço para ajudar a Ucrânia na guerra. Em paralelo, o FBI identificou o responsável pelo vazamento, que foi preso em Massachusetts.

Jack Douglas Teixeira tem 21 anos, faz parte da Guarda Aérea Nacional, trabalhava numa base militar e é especializado em inteligência. Ele participava de um grupo de bate-papo no site Discord, onde foram postados os documentos, em março. O espaço era usado para troca de ideias sobre armas, games e memes racistas.

Segundo os investigadores, a primeira impressão é a de que Teixeira pretendia impressionar os outros membros do grupo, a maioria jovens como ele. Segundo o Departamento de Justiça, ele deve ser julgado com base na Lei de Espionagem. Cada acusação pode render uma pena de 10 anos de prisão. Como é possível que cada documento vazado seja tratado como uma acusação diferente, ele pode passar um longo tempo na cadeia.

Desde o início, o governo americano tentou conter as consequências constrangedoras do vazamento, que expôs vulnerabilidades na defesa aérea da Ucrânia e avaliações de aliados em uma série de delicadas questões de inteligência.

A Casa Branca, no entanto, ainda não conseguiu avaliar todas consequências diplomáticas e de segurança nacional dos documentos vazados desde que o escândalo estourou, na semana passada. Um importante porta-voz do Pentágono disse que as revelações representam um "risco muito sério para a segurança nacional". O Departamento de Justiça abriu uma investigação para apurar o caso.

O site Discord é uma plataforma de mídia social popular entre pessoas que gostam de jogos online. O site, que hospeda chats de voz, vídeo e texto em tempo real para grupos, disse estar cooperando com as autoridades americanas.

<b>China</b>

Por mais que o governo americano tente amenizar a importância do conteúdo dos documentos, o vazamento foi um desastre para os EUA. Entre os detalhes mais constrangedores estão os pontos fracos do sistema de defesa aérea da Ucrânia e as dificuldades enfrentadas em uma possível contraofensiva ucraniana.

Outros documentos revelam uma abordagem constrangedora dos EUA com seus aliados. A Coreia do Sul foi pressionada a enviar armamento e munição à Ucrânia. O Mossad, serviço secreto de Israel, teria incentivado seus agentes a participar dos protestos contra o governo do premiê Binyamin Netanyahu.

Em razão da quantidade de documentos, as revelações vêm a conta-gotas. Ontem, um relatório de inteligência dos EUA, com base em conversas interceptadas da agência de espionagem russa, sugeriu que a China havia aprovado o envio de ajuda letal a Moscou, no início do ano.

O governo chinês, de acordo com os americanos, planejava fornecer armas como se estivesse enviando equipamento de uso civil. Os documentos, no entanto, não confirmam que a ajuda chinesa tenha realmente sido enviada à Rússia.

<b>ONU</b>

Segundo outros documentos divulgados ontem, os EUA também espionaram o secretário-geral da ONU, António Guterres. Para Washington, o português estava sendo condescendente em relação aos interesses russos na Ucrânia.

Os novos documentos contêm observações do secretário-geral sobre a guerra e informações sobre o acordo para liberar a exportação de grãos no Mar Negro, negociado pela ONU e pela Turquia, em julho, em meio a temores de uma grave crise alimentar mundial.

"Guterres enfatizou seus esforços para melhorar a capacidade de exportação da Rússia, mesmo que isso envolva entidades ou indivíduos russos sob sanções", diz um documento. Os americanos também disseram que o secretário-geral da ONU estava prejudicando os esforços para responsabilizar a Rússia pela guerra na Ucrânia.

Segundo reportagem da BBC, um funcionário da ONU alegou que a organização foi "movida pela necessidade de mitigar o impacto da guerra sobre os mais pobres e isso significa fazer o possível para reduzir o preço dos alimentos e garantir que os fertilizantes sejam acessíveis aos países que mais precisam". (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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