Aberta desde terça-feira, a janela de transferências de atletas vindos do exterior para o Brasil não deve ser muito movimentada neste ano. A tendência é que, endividados, os clubes brasileiros pisem no freio e não façam contratações de impacto para não prejudicar o orçamento, já muito afetado pela pandemia de covid-19 em 2020.
A janela de contratações oriundas do futebol internacional estava prevista para ocorrer entre 1º e 31 de julho de 2020, mas a data acabou alterada por conta da paralisação do calendário em razão da pandemia do novo coronavírus e, agora, ficará aberta até o dia 9 de novembro.
Além do prejuízo financeiro provocado pela paralisação dos campeonatos e pelos jogos sem torcedores nos estádios, há outros fatores que dificultam a tarefa dos times brasileiros de repatriar jogadores neste momento: o fato de haver poucos atletas sem contrato no exterior, a desvalorização do real diante do euro e do dólar e o desejo das equipes europeias de manter seus atletas pela impossibilidade de reposição, já que a janela de transferências das principais ligas do continente está fechada.
A lógica foi invertida neste ano. Antes, o mercado de aquisições na Europa sempre se encerrava depois do fechamento do período de registro de atletas contratados por times do Brasil de fora do território nacional, o que era um problema para agremiações do País, que não podiam repatriar atletas para repor a saída de nomes importantes. Agora, esse vácuo entre entradas e saídas ocorre com boa parte das equipes do "Velho Continente".
"Hoje, um time brasileiro que quiser contratar algum jogador de fora provavelmente vai ter que trazer alguém que esteja encostado, sem jogar. O time do exterior não quer se desfazer de um atleta importante porque não tem como repor nesse momento. Ficou uma data de janela oportuna só para trazer jogador que não está sendo aproveitado", salienta Marcelo Robalinho, fundador da Think Ball, empresa de gerenciamento de carreira de jogadores. Ele tem cerca de 60 clientes espalhados por 15 países diferentes.
Neste ano, com a dificuldade para garimpar bons jogadores sem contrato, é provável que não haja grandes nomes sendo repatriados de graça como aconteceu em 2019 – no ano passado, Filipe Luís e Rafinha se transferiram para o Flamengo e Luiz Adriano, para o Palmeiras.
Dos problemas citados, o endividamento segue sendo o maior empecilho para contratar. No caso do Sport, a dificuldade é ainda maior porque o clube sofreu um bloqueio da Fifa por conta de uma dívida referente à compra do atacante André do Sporting, em 2017, e está proibido de registrar novos atletas por enquanto. Mesmo que se livre desse empecilho, o clube não tem condições para fazer grande aquisições.
"O Sport não é um clube comprador de jogadores. O clube está em fase de reconstrução. É a única política possível para reconstruir o clube. Compra de jogadores não está no nosso planejamento. Empréstimo e parcerias, sim. Pegar alguns jogadores livres no mercado é uma opção", explica Chico Guerra, diretor do Sport. Ele acrescentou que a diretoria trabalha para pagar R$ 30 milhões de dívidas até o fim do ano.
Sem dinheiro em caixa, parte considerável dos times brasileiros vem apostando nas categorias de base. O investimento nos jovens, no entanto, ainda não é tão expressivo. É o que aponta um relatório do Itaú BBA sobre o mercado do futebol. O estudo mostra que o mercado brasileiro movimentou mais de R$ 1 bilhão em contratações em 2019, enquanto o investimento para o desenvolvimento de novos talentos foi de R$ 243 milhões.
"A base assumirá um papel de protagonismo em todos os times nesse momento, pois, com a queda dos recursos financeiros, os clubes devem diminuir os gastos com contratações e salários. É a hora de dar oportunidade aos garotos formados nos clubes e um bom momento para mostrar que base é investimento e não gasto", ressalta Erisson Matias, coordenador do departamento de captação de atletas do Fortaleza.