Estadão

Com Benedetta e Madalena, Mix Brasil começa em formato híbrido

Havia jovens querendo forçar o debate sobre Madalena na votação da crítica na recente Mostra de São Paulo. O longa de Madiano Marcheti circulou por festivais internacionais. Traz um olhar diferenciado sobre o Brasil rural, do agronegócio. Plantações, agroboys, baladas, mulheres trans. Um assassinato. Madalena impressiona pela estrutura, mais até do que pelos temas, como cinema autoral e independente. Terá nova chance, e agora possivelmente com um público mais entusiasmado. Integra a seleção do 29º Mix Brasil, que começa nesta quarta-feira, 10, e vai até 21.

O Festival Mix Brasil está virando balzaquiana – no ano que vem serão 30 anos da Mostra de Cultura da Diversidade. O, a – todas as diversidades. Gênero, raça, sexo, condição sexual. O Brasil é campeão mundial de desigualdade, e o Mix tem escancarado isso. O desse ano será híbrido, gratuito, como sempre, com sessões presenciais marcadas pelos cuidados que a pandemia ainda impõe. Vale lembrar a Mostra de São Paulo. Nas sessões com público bombaram os vencedores dos grandes festivais, leia-se Cannes. Titane, de Juilia Ducournau, que venceu a Palma de Ouro, teve sessões lotadas. Poderia estar no Mix, mas de Cannes está vindo outra atração. E talvez maior.

A prestigiada Cahiers du Cinéma, em seu número duplo, especial sobre o festival – julho/agosto -, colocou na capa Leos Carax, Retour em Musique (com a foto de Annette) e citou os outros três grandes do evento. Paul Verhoeven, Bruno Dumont e Ryusuke Hamaguchi. Julia foi para dentro. O editorial celebra "Benedettannette". Verhoeven já era um imenso transgressor em sua primeira fase na Holanda e, depois na passagem por Hollywood, quando usou a máquina do cinemão para liberar seu imaginário, mas parece que só foi descoberto com Elle, estrelado por Isabelle Huppert. Do elenco participava Virginie Efira, que agora faz a noviça viciosa de um convento italiano do século 17.

Benedetta abrirá a sessão para convidados desta noite, no Cinesesc, e depois terá outra sessão para o público – uma! -, no dia 18. A primeira exibição no Brasil, na América Latina. Quem ficar de fora, não terá de esperar muito. O filme, da Imovision, deve estrear nos primeiros dias de janeiro de 2022, mas o cinéfilo de carteirinha não está aguentando esperar até lá.

Existem filmes que viram eventos, atos políticos. O Marighella de Wagner Moura está sendo esse fenômeno nos cinemas brasileiros. Verhoeven escreveu um romance que não consegue filmar, em que Jesus é filho de uma Maria que foi estuprada por soldados romanos nas guerras da Judeia. Transferiu suas preocupações sobre fé, sexo, religião e a força das instituições para aquele convento.

Em seu editorial, Marcos Uzal, na Cahiers, celebra em Benedetta e Annette a crença de Verhoeven e Carax no cinema como espetáculo, ao mesmo tempo que questionam internamente seus códigos – fundamentos, belezas e horrores. A seleção desse 29º Mix Brasil está cheia de preciosidades. Tem as vencedoras da Palma Queer em Cannes (Catherine Corsini, de A Fratura) e do Teddy Bear em Berlim (Yana Ugrekhelidze, de Instruções de Sobrevivência). Tem o indicado do Brasil para tentar concorrer ao Oscar (Deserto Particular, de Aly Muritiba).

Toda a programação, online e presencial, pode ser pesquisada no site www.mixbrasil.org.br.

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