Os comentários do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, foram a cereja do bolo de um dia no qual os mercados mostravam disposição para o risco desde a manhã, especialmente em Nova York, com a expectativa de que o tom do BC americano se suavizasse ante os recentes sinais de desaceleração da atividade na maior economia do globo. Assim, durante as observações de Powell, o Nasdaq, que concentra ações de "crescimento", muito sensíveis às condições monetárias, retomou os 12 mil pontos, em alta de 4%, mantida no fechamento, enquanto, na B3, o Ibovespa recuperava os 101 mil pontos, em nível intradia não visto desde o último dia 8 (101.576,67).
Com o feliz desfecho da reunião, a referência da B3 subiu 1,67%, aos 101.437,96 pontos, tendo chegado na máxima do dia aos 101.471,00 pontos, saindo de mínima a 99.771,55, quase correspondente à abertura (99.773,04). Contudo, o giro financeiro ainda decepciona, limitado a R$ 18,8 bilhões nesta quarta-feira de Fed. Na semana, o Ibovespa sobe agora 2,54% e, no mês, 2,94%, limitando a perda do ano a 3,23%.
A marca de encerramento, hoje, foi a maior desde 15 de junho, então aos 102.806,82 pontos, o dia anterior à correção que o levaria, em um primeiro momento, aos 99,8 mil e nas semanas seguintes a mínimas inferiores, até os 96 mil pontos (ou 95 mil no intradia), nos menores patamares desde o começo de novembro de 2020.
Na aguardada entrevista coletiva desta tarde, o presidente do Fed disse que o ritmo de aperto de juros "provavelmente" será moderado, daqui para frente. A suavização da atividade, mencionada pelo Fed no comunicado, já vinha contribuindo para a animação dos mercados, na expectativa por indicações mais "dovish" do que as dos últimos meses, de restrição acelerada das condições de liquidez pelo BC americano ante a resiliente inflação. Apesar da renovação, hoje, do compromisso de conter a elevação dos preços, Powell observou que o Fed já atingiu o nível de juros que a instituição considera "neutro" – ou seja, nem estimulativo nem restritivo à atividade econômica.
"O BC americano seguiu o que o mercado estava esperando e o Powell trouxe observações relevantes, especialmente sobre a moderação do ritmo de alta dos juros. Ele mencionou que os dados de consumo desaceleraram significativamente, embora as condições do mercado de trabalho continuem apertadas, a pleno emprego. Para setembro, deve vir 75 pontos-base de aumento (na taxa de referência). Os juros americanos recuaram, nos vencimentos de 2 e 10 anos, e mesmo ativos como bitcoin tiveram valorização", diz Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, chamando atenção também para o fechamento na curva de juros brasileira.
"O aumento de 0,75 ponto porcentual foi o esperado pelo mercado para hoje. E o comunicado (logo após a decisão) também veio dentro do que se esperava. Houve menção nova, à atividade estar desacelerando um pouco, mas sem desprezar que o mercado de trabalho continua muito forte, com taxa de desemprego baixa e contratações em alta", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. "No comunicado pelo menos, não veio indicado qual seria o ritmo (de elevação) para a próxima reunião, se 0,75 ou 0,50 ponto porcentual", acrescenta.
"É um espaço de tempo atípico, lá para o final de setembro (21) a próxima reunião. Há muitos dados e indicadores para sair até lá, além do evento de Jackson Hole, onde o Fed costuma mandar recados também. Acho que o plano do Fed era um comunicado mais neutro mesmo. A dúvida era para a entrevista coletiva, onde Powell tem sido mais pressionado pelos jornalistas e tem aberto um pouco seus planos", observa o estrategista.
Com a moderação de tom do BC americano, as ações de maior liquidez e peso no Ibovespa se alinharam em alta, após a indecisão, falta de sinal único, vista mais cedo na sessão. No fechamento, Petrobras ON e PN subiram, respectivamente, 0,65% e 1,10%, Vale ON, 0,23%, e os ganhos entre os grandes bancos chegaram a 0,65% (BB ON), à exceção de Santander (-0,46%). Na ponta do Ibovespa, a forte queda do dólar na sessão, de 1,84%, a R$ 5,2509 no encerramento, deu impulso extra às ações da Gol (+10,93%), à frente de Pão de Açúcar (+8,37%) e de Carrefour Brasil (+7,28%). No lado oposto, Telefônica Brasil (-3,21%), TIM (-1,59%) e Santander (-0,46%).