Estadão

Juros: Taxas recuam acompanhando rali dos ativos após sinalização de Powell

Os juros encerraram o dia em queda, acompanhando a reação positiva dos ativos de risco a declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em entrevista coletiva para comentar a decisão de elevar o juro em 75 pontos-base, para a faixa entre 2,25% e 2,50%. Powell enfatizou que daqui em diante a decisão de juros será feita a cada reunião, a depender dos indicadores, mas notou que "provavelmente será apropriado moderar" o ritmo do aperto.

As taxas com vencimento a partir de 2024 encerraram com alívio de mais de 10 pontos-base, chegando a 15 pontos em alguns vértices. Com a queda maior da ponta longa, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 voltou a ficar abaixo de 13% pela primeira vez desde o último dia 15, encerrando em 12,96%, de 13,11% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2025 caiu de 13,195% para 13,065% e a do DI para janeiro de 2024, de 13,782% para 13,68%. O DI para janeiro de 2023 encerrou com taxa de 13,88%, de 13,892%.

A primeira parte do dia até a reunião do Fed foi marcada pelo compasso de espera dos players. O mercado de juros aqui voltava a se ajustar em baixa com moderação a partir do miolo da curva, onde estão embutidos elevados prêmios de risco. Enquanto isso, a ponta curta oscilava perto da estabilidade. Grosso modo, a curva local se inspirava nos Treasuries. Uma vez que o Fed endossou a aposta consensual e elevou o juro em 0,75 ponto porcentual, a reação do DI foi limitada ao comunicado, com os investidores esperando as pistas de Powell sobre os próximos passos. E elas vieram.

Powell reafirmou o compromisso de conter a inflação e disse que outro aumento de juros "incomumente alto" pode ser apropriado nos Estados Unidos. Por outro lado, enfatizou que a decisão de juros será feita a cada reunião, a depender dos indicadores, mas notou que "provavelmente será apropriado moderar" o ritmo do aperto. Disse ainda não achar que será necessário que a economia entre em recessão para controlar a inflação. "O cenário de recessão nos EUA é inconsistente com alguns indicadores atuais", disse.

O "termômetro" do CME Group já mostra apostas majoritárias numa redução do ritmo de aperto do juro pelo Fed na reunião de setembro para 50 pontos-base, que aparece com 72% de probabilidade, ante 50,7% ontem. Em contrapartida, a chance de alta de 75 pontos caiu de 41,2% para 28%.

Para Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, após o comunicado, as principais dúvidas dos analistas eram se Powell optaria por sinalizar os seus próximos passos e se o medo de recessão seria citado. "As respostas foram sim e sim , e ambas para o lado dovish", afirma.

O yield da T-Note de dois anos virou e passou a cair com força, abaixo dos 3,00%, enquanto os rendimentos de prazo mais longos reduziram o ritmo de baixa, com o do T-Bond de 30 anos passando a subir.

Para o Brasil, quanto mais rápido os Estados Unidos conseguirem controlar a inflação – e, se possível, com danos mínimos à economia – melhor para o Banco Central, que já tem a política fiscal dificultando sua tarefa de controlar a inflação numa economia ainda pouco permeável aos efeitos do aperto monetário.

"Para nossa surpresa, a maior parte dos indicadores de confiança e dos dados do mercado de trabalho continuam melhorando. Além disso, o impulso fiscal adicional concedido pelo Congresso no início deste mês coloca incerteza sobre o momento da desaceleração da atividade", afirmam a economista-chefe no Brasil Cassiana Fernandez e o economista Vinicius Moreira, do JPMrogan. O banco elevou hoje a projeção para a taxa Selic terminal de 13,75% para 14,0%. Além de uma alta de 0,50 ponto prevista para a reunião do Copom em agosto, a instituição prevê agora um último ajuste de 0,25 ponto em setembro.

Na agenda do dia, o Tesouro divulgou o relatório mensal da dívida pública de junho, que mostrou queda na participação de estrangeiros no estoque total da dívida, de 9,1% em maio para 8,9%, mas aumento do colchão de liquidez de R$ 1,108 trilhão em maio para R$ 1,221 trilhão. Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Renascença DTVM, destaca que é o terceiro maior montante da série histórica, decorrente principalmente da emissão líquida de R$ 67 bilhões em títulos no mês e do pagamento pela Eletrobras de R$ 27 bilhões do bônus de outorga.

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