Sem novas medidas para sanar a crise, a Universidade de São Paulo (USP) comprometerá mais de 90% das receitas com salários pelo menos até o fim de 2016, mesmo com o recém-aprovado Plano de Demissão Voluntária (PDV). Somado o reajuste de 5,2% para professores e funcionários, a previsão é de que a reitoria gaste mais de R$ 1,15 bilhão além do que recebe do Estado até dezembro deste ano.
Para a reitoria, o dado serve de argumento a outras medidas de corte de gastos, como passar o Hospital Universitário (HU) à Secretaria Estadual de Saúde. Já os grevistas defendem pedir verbas extras ao governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Desde 2013, a USP gasta mais de 100% do repasse do Tesouro Estadual com a folha de pagamento e usa parte de sua reserva para cobrir as despesas. O ideal, para especialistas, é que a proporção não supere os 85%. Embora em situação menos grave, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) também gastam quase toda a receita com salários.
O rombo que supera R$ 1,15 bilhão é mais do que o dobro do previsto no orçamento aprovado em fevereiro, que estimava retirar R$ 570 milhões da poupança. Embora menor, o déficit anual deve persistir até 2018.
Os dados da reitoria apontam que, apenas com as ações já feitas e o PDV, a USP esgotará suas reservas financeiras nos próximos dois anos. Em abril, essa poupança tinha R$ 2,3 bilhões.
Para reverter esse cenário, a USP apostou em conter despesas, como o congelamento de obras e contratações, e o PDV, que prevê a aposentadoria antecipada de 1,7 mil funcionários, 10% do quadro da instituição. As ações não foram suficientes.
Outras medidas, como desvincular dois hospitais universitários, foram propostas pelo reitor Marco Antonio Zago. A transferência do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, em Bauru, foi aprovada em agosto pelo Conselho Universitário, órgão máximo da instituição. Já o repasse do HU para a Secretaria Estadual da Saúde será discutido novamente em outubro.
A USP ainda planeja mais ações de austeridade, como incentivar a redução da jornada de trabalho dos servidores, com diminuição correspondente de salários, e vender imóveis.
Sem saída
Para César Minto, coordenador do fórum que reúne os sindicatos das estaduais, os números negativos expõem a necessidade de mais dinheiro do governo. “Houve expansão muito grande nas universidades, sem recurso adicional.”
O Conselho de Reitores (Cruesp) e os sindicatos têm feito mobilizações com deputados e o governo por mais verba. O Cruesp pediu mudança de cálculo da cota das estaduais sobre a arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de 9,57%. A ideia é manter o porcentual, mas considerar juros e multas que envolvem a arrecadação, o que eleva o montante. Grevistas querem o aumento da cota.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.