Economia

Com valorização do real, rentabilidade dos exportadores volta ao nível de 2011

A valorização do real fez a rentabilidade das exportações regredir quase cinco anos, derrubando, com uma única exceção, as margens de lucro de praticamente todos os setores exportadores da economia, mostra levantamento feito pela Funcex, fundação que desenvolve estudos sobre comércio exterior.

O índice de rentabilidade apurado na última pesquisa da instituição – 79,7 em agosto – foi o menor desde novembro de 2011, quando o nível ficou em 79,5. Agora com três meses consecutivos em queda, o termômetro que mede a lucratividade das exportações brasileiras já tinha marcado 79,8 em julho, antes de ter a mínima renovada no mês seguinte.

Para chegar a esses valores, a Funcex desconta do preço das exportações – convertido em reais pela taxa de câmbio do mês analisado – o custo de produção do produto embarcado. O resultado é uma taxa de rentabilidade que a fundação calcula para todas as exportações brasileiras e, individualmente, a cada um dos 29 setores monitorados.

Em agosto, quando o dólar teve, na média, a cotação mais baixa em 14 meses, a rentabilidade teve crescimento no comparativo anual apenas no segmento de “indústrias diversas”, que reúne produtos de pouca representatividade na pauta das exportações, como joias, instrumentos musicais, artefatos esportivos, brinquedos e aparelhos de uso médico.

No período, o real ficou mais caro não apenas em relação ao dólar, contra quem teve valorização, já descontada a inflação, de 14,9% no comparativo com agosto de 2015, mas também frente às cestas de moedas dos parceiros latino-americanos (21,5%) e da Europa (16,4%). Para o exportador, isso significa ganhar menos na conversão, na moeda brasileira, do faturamento obtido com embarques ao exterior.

Custos

Contudo, o câmbio não traz, por si só, a explicação completa de como a rentabilidade dos exportadores retomou ao nível de uma época em que o dólar era negociado abaixo de R$ 2,00. Custos de produção em alta e preços praticados nas exportações em baixa completam a equação, cujo resultado, apenas em agosto, reduziu em 14,7% o índice de rentabilidade das transações comerciais com mercados internacionais na comparação anual.

Em 12 meses até agosto, o balanço da Funcex revela aumento de 10,4% no custo de produção. Já os preços caíram 16,1% como reflexo da desvalorização das commodities e do corte nos preços em dólares cobrados pela indústria de transformação, que aproveitou a margem aberta durante o período de desvalorização do real para ganhar competitividade num mercado global pouco comprador.

O antagonismo nas trajetórias de preços e custos foi compensado por uma taxa de câmbio vista como “amigável” por exportadores durante a maior parte do primeiro semestre, mas que se traduziu em perda de rentabilidade quando a melhora de humor do mercado, após a troca de governo, conduziu a divisa ao valor mais baixo em mais de um ano – como aconteceu há dois meses.

“Chegamos a 2016 com um nível de custos altos, preços deprimidos e câmbio desvalorizado. Nos primeiros meses do ano, a forte desvalorização cambial compensava a queda dos preços, mas com a recente valorização (do real), a rentabilidade das exportações passou a apresentar resultado inferior na comparação com meses anteriores”, afirma André Leone Mitidieri, economista da Funcex.

O novo cenário introduz um ponto de interrogação tanto no desempenho das exportações, motor dos primeiros sinais de recuperação da indústria, quanto no ímpeto das empresas em investir uma quantidade razoável de recursos em estruturas de exportação e desenvolvimento de mercados internacionais.

Pouco mais de 2 mil companhias – sobretudo pequenas e médias empresas – voltaram a exportar após longo tempo ou realizaram neste ano suas primeiras vendas externas no embalo de um dólar que, no início do ano, ultrapassou a barreira dos R$ 4,00.

Ainda que o número de exportadores ativos – que realizam operações de comércio exterior todo mês – venha se mantendo acima de 10 mil empresas, parte delas, principalmente as menores, pode perder viabilidade em mercados internacionais com a moeda americana agora na casa de R$ 3,20.

Segundo Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, alguns desses exportadores vão absorver períodos de prejuízo para não abandonar mercados internacionais – pois depois “fica difícil voltar” – ou ocupar melhor fábricas ociosas por conta da crise doméstica. No entanto, esse é um esforço que não se sustenta por muito tempo, destaca o consultor. “Com o dólar nesse patamar, as empresas tentarão exportar, mas, sem o retorno de antes, elas deixarão de investir em exportação.”

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, diz que as vendas externas perderam atratividade porque o alto custo de produzir no País não é mais compensado pelo câmbio. “O que era competitivo era o câmbio, não as empresas. Elas tinham, na verdade, ganhado uma competitividade temporária devido à desvalorização do real”, afirma o executivo.

“Apetite elas têm, o que falta é alimento”, acrescenta o titular da AEB, uma das entidades que, no fim do mês passado, encaminhou ao governo pedido por uma alíquota de 5% no Reintegra, como é conhecido o programa que restitui impostos pagos por empresas exportadoras. Hoje, o programa oferece uma restituição “simbólica” de 0,1%.

Cautela

Um estudo divulgado na quinta-feira pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostrou que, para 72% das empresas, o medo de a moeda brasileira engatar novo ciclo de supervalorização representa o maior entrave na hora de exportar.

“Se eu tivesse que apontar um único erro do governo Dilma, apontaria a apreciação cambial, que levou o dólar a R$ 1,60. Foi quase um suicídio industrial. O setor exportador foi muito atingido e agora está desconfiado (..) A incerteza cambial é um problema que o novo governo ainda não conseguiu corrigir em relação ao anterior”, comenta Thomaz Zanotto, diretor do departamento da Fiesp responsável por assuntos de comércio exterior.

Segundo ele, o dólar voltou a uma cotação perigosa para a indústria. “Já estamos num terreno de sobrevalorização (do real) de 7%. É difícil dizer qual seria a melhor cotação do dólar, mas não é abaixo de R$ 3,60.”

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