Estadão

Comédia com Patrícya Travassos e Marcelo Faria faz público voltar a gargalhar

A atriz carioca Patrícya Travassos é acostumada a fazer o público gargalhar desde meados da década de 1970, quando a proposta irreverente do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone estourou nos palcos brasileiros. Com o espetáculo Duetos, que, depois de temporada no Rio de Janeiro, chega a São Paulo nesta sexta-feira, 4, no Teatro Raul Cortez, a artista conta, porém, que teve uma sensação diferente, quem sabe até inédita. "É gratificante ver os espectadores sorridentes, todos mais relaxados, esquecendo desse momento de tensão política e social que vivemos", diz ela. "É o poder do teatro, porque hoje fazer alguém chorar é moleza, rir anda difícil."

Sob a direção de Ernesto Piccolo, Duetos é uma comédia de situações formada por quatro histórias do inglês Peter Quilter, o mesmo autor de Gloriosa e A Atriz, peças protagonizadas no Brasil, respectivamente, por Marília Pêra e Betty Faria. Ao lado de Patrícya está o ator Marcelo Faria, e a dupla protagoniza esquetes em que a busca por uma parceria sólida move os personagens. Não se trata de uma DR de casal. Mesmo que cada trama seja narrada através de um homem e uma mulher, eles não vivem necessariamente um relacionamento amoroso.

Os bastidores são expostos graças ao cenário construído por J.C. Serroni, que montou um camarim em cada lateral do palco. É lá que os atores trocam de roupa, retocam a maquiagem e fazem as transições de cena. Na abertura, Patrícya e Faria representam uma dupla que marca um encontro depois de uma paquera iniciada em um aplicativo. A seguir, é a vez de Jane, a secretária que prepara uma festa de aniversário para o chefe, Ary. Ele é gay, mas ela não acredita que a orientação sexual seja um empecilho para um romance. Na terceira parte, o casal Shirley e Beto, em fase de separação, aproveita férias na Espanha antes da assinatura do divórcio e, por fim, Tobias sofre ao ver sua irmã se preparar para o terceiro casamento e incidentes fazem os dois acreditarem em um mau presságio.

O diretor Ernesto Piccolo conta que, nos ensaios, tratou seu processo criativo como se fossem quatro peças diferentes. "São temperaturas distintas em que cada interpretação segue por um caminho, ainda mais tendo o Marcelo como um ator muito racional e a Patrícya, que é superintuitiva", define ele.

A artista, apesar da experiência, não esconde que se sentiu desafiada pelo teste de versatilidade. "Preciso convencer o público em 30 segundos que já sou outra mulher diferente daquela que fiz antes", diz. Para Patrícya, a química alcançada com Faria, no primeiro trabalho junto dos dois, garante um frescor. "A gente só se conhecia de oi, tudo bom? e, para encontrar um tom de comédia, foi ótimo porque intimidade excessiva atrapalha no palco, pode virar uma sucessão de piadas internas entre amigos."

Piccolo acredita que o teatro de entretenimento ganha uma nova força em tempos de crise. Em seu currículo versátil, ele conta que esse ano dirigiu ainda no Rio de Janeiro as peças Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, adaptação do livro de Clarice Lispector, e Pormenor de Ausência, solo em que Giuseppe Oristânio interpreta o escritor Guimarães Rosa, mas tem forte atração pela comédia. "Eu sempre procuro deixar para o público uma esperança no fim do túnel, por isso fujo de finais trágicos", justifica ele.

Patrícya, por sua vez, se sente animada com a receptividade de Duetos, depois de um período em que o teatro, inclusive o de comédia, segundo ela, desaparecia aos poucos. "O sucesso do stand-up comedy é muito legal, tem artistas talentosos, mas roubou um grande espaço do nosso teatro", afirma ela. "São montagens baratas, fáceis de viajar, e a gente, que se preocupa com cenário elaborado, uma produção maior, acabou esquecido."

<b>Duetos</b>

Teatro Raul Cortez. Rua Doutor Plínio Barreto, 285, Bela Vista, São Paulo. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 50 e R$ 120. Até 18/12.

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