Conhecido como cômico de TV, muita gente não sabe é que Paulo Silvino teve começo de carreira artística como cantor de rock. Com o nome artístico de Dickson Savana, chegou a gravar disco pela Chantecler.
Depois, no início dos anos 1960, gravou outro, o LP Nova Geração em Ritmo de Samba, com o nome de Silvino Júnior, e cinco músicas – Guerra à Bossa, Vestígio de Saudade, Ursinho Dodói, Éramos Três e Copacabana sem Você. Quem também participa do disco? A grande Claudete Soares, com A Fábula que Educa. Os arranjos são de Eumir Deodato e bambas como Altamiro Carrilho e Durval Ferreira estão nos créditos. Silvino, muito criativo, introduziu nesse disco um certo “Quarteto da URSA”, parodiando a famosa União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a então poderosa URSS. URSA queria dizer “União Reabilitadora de Samba do Asfalto” e interpreta a canção Tristeza de Nós Dois.
O contexto musical da época era o seguinte: havia a Bossa Nova. E havia o pessoal que gostava do samba e achava que a renovação da Bossa Nova era legal, mas o tinha deixado muito elitista e pouco dançável. Nessa fresta entra o chamado Sambalanço, no qual pontificam figuras como Orlandivo e Ed Lincoln.
Olandivo era cheio de swing e compunha com onomatopeias engraçadas (“Samba blim, blim blau, tamanco batucando no quintal” ou “Sentado na calçada/de canudo e canequinha/tublec tuplim/eu vi um garotinho/tublec/tuplin, etc”).
Paulo Silvino, amigo de mocidade, era seu parceiro. Um dia compuseram uma música chamada João e Maria e a mostraram numa noitada na casa do produtor Carlos Imperial, famoso pela moral flexível e suas festas de embalo. No dia seguinte, Orlandivo se encontrou com Roberto Carlos na gravadora Polydor e o futuro “Rei” lhe disse que ia gravar uma música chamada João e Maria. “Mas como você a conhece?”, espantou-se Orlandivo. “Ora, é do Carlos Imperial e ele me deu para gravar”, respondeu Roberto.
(Na verdade, a música era outra, Imperial havia pirateado o título.)
A partir de então, Orlandivo proibiu Silvino de ir às festas do Imperial depois de haver composto alguma música. “Você fica entusiasmado e aí acaba entregando o ouro para o Imperial”. O episódio está contado no ótimo livro Sambalanço, a Bossa que Dança, de Tárik de Souza.
Essa fase passa rápido na carreira de Silvino. Logo começa a fazer teatro, escreve e atua na peça Anjinho Bossa Nova. Cria o personagem Tito Gastão, que o leva para a TV Rio em 1965. Daí para o sucesso na Globo com Faça Humor Não Faça a Guerra e Planeta dos Homens foi um passo.
E o resto é história. Mas, nessa história, Silvino também deixou sua marca na música popular brasileira.