Opinião

Considerações sobre pornografia, obscenidade e erotismo na educação

Reportagem publicada nesta quinta-feira pelo Guarulhos Hoje pode abrir uma interessante polêmica junto à sociedade. Alguns pais de alunos do ensino médio da rede estadual procuraram o jornal indignados com o fato de seus filhos terem recebido, como parte do material distribuído pelo Governo, o livro “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”, seleção de Ítalo Moriconi, Editora Objetiva.


 


Entre os contos inseridos na publicação, está o texto “Obscenidades para uma dona de casa”, de autoria de Ignácio de Loyola Brandão, um dos maiores expoentes da literatura brasileira. Porém, em vários trechos há passagens que descrevem atos sexuais, utilizando palavras que, para muita gente, são de baixo calão ou que poderiam induzir a práticas impróprias para pessoas dessa idade. A Secretaria Estadual de Educação, em nota enviada à Redação, informa que não existe erro algum na inclusão do livro dentro do Programa de Apoio ao Saber, sem entrar no mérito se o conteúdo é ou não apropriado ao público a que se destina. Presume-se que, ao distribuir o livro, o Estado considera ser natural entregar esse tipo de linguagem a adolescentes com idade próxima aos 16 ou 17 anos.


 


Desta forma, vale algumas reflexões em relação ao tema. Primeiro, é necessário relembrar alguns conceitos, que podem variar dependendo  do ponto de vista de diferentes setores da comunidade. Antes de mais nada vale recorrer a alguns conceitos que envolvem essa discussão. O texto distribuído a adolescentes seria pornográfico, obsceno, erótico? Pornografia é a representação, por quaisquer meios, de cenas ou objetos obscenos destinados a serem apresentados a um público e também expor práticas sexuais diversas, com o intuito de despertar desejo sexual no observador.


 


Nos dicionários facilmente encontrados na internet, a definição do termo obscenidade pode variar entre as sociedades, culturas, países e épocas. Mas remete diretamente a variáveis entre a pornografia e o erotismo. Aliás, este último é o que mais se aproxima do texto distribuído pelo Estado. É o conjunto de expressões culturais e artísticas humanas referentes ao sexo. A palavra se refere ao amor sensual e à poesia de amor.


 


Ou seja, não se quer ou se pretende discutir a qualidade do texto de Inácio de Loyola Brandão. Apenas questiona-se se ele deve ser aplicado a um público em busca de novidades e – na maioria dos casos – encontra-se totalmente despreparado para discernir entre o certo e o errado. Para muitos, são temas que já fazem parte do vocabulário dos jovens e que seria hipocrisia esconder deles um texto que aborda algo comum à sociedade. Entretanto, há que se levar em consideração que existem formas muito mais inteligentes de inserir os jovens no mundo da leitura, sem precisar expô-los, por meio de livros escolares, a uma situação dessas.


 


Esse tipo de discussão é pertinente. Demonstra que existem pais que estão preocupados de fato com a formação de seus filhos. Que querem discutir e verificar o que é melhor para eles, abrindo para o debate algo que julgam fugir de um eixo lógico do que consideram a melhor educação. Somente através do debate de ideias é possível construir essa sociedade melhor, que tanto se anseia.

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