Em entrevista ao <b>Estadão</b>, o cientista político da Universidade de Nova York, Patricio Navia, explica que a sociedade chilena é politizada, mas que, mesmo assim, a expectativa é de baixa participação eleitoral no segundo turno da eleição, que será realizado amanhã.
<b>Historicamente, a sociedade chilena é politicamente engajada?</b>
Em geral, no Chile, há cada vez menos identificação ideológica com esquerda ou direita. As pessoas se definem mais como de centro. Há uma parte da sociedade que está muito politizada, mas a participação eleitoral é baixa. Quem têm posições claras são aqueles que participam.
<b>Houve intensificação do debate político no Chile nos últimos anos?</b>
Há mais movimentos políticos nas ruas. Vimos marchas importantes. Mas o Chile tem história de ativismo. Veja as manifestações de 2006 e de 2011. Temos tido manifestações por bastante tempo. A sociedade até que está polarizada, mas ainda há pouca participação.
<b>Quais eventos explicam o que acontece hoje no Chile?</b>
O processo constituinte influenciou muito nas eleições presidenciais e nas expectativas das pessoas. Os protestos de 2019 fizeram com que o processo constituinte parecesse uma coisa mágica, que solucionaria todos os problemas do país. As pessoas tinham muitas expectativas de que a nova Constituição daria a todo mundo os seus direitos, ampliaria aqueles que já têm, como aposentadoria e saúde. O processo constituinte criou expectativas altas demais.
<b>O que pode acontecer ao Chile em caso de vitória de Kast ou Boric?</b>
Em ambos os casos, a situação no Chile vai ser muito complexa. Porque, independentemente de quem ganhe a eleição, o país estará passando pelo processo constituinte. Então, a convenção constituinte terá muita influência para decidir o que acontece no próximo governo. O futuro presidente estará um pouco de mãos atadas. É importante entender que a constituinte terá a última palavra. Por isso, tenho a impressão que, se Kast vencer, haverá um confronto entre ele e os constituintes. Se Boric vencer, provavelmente, o conflito não será tão grande, mas ele precisará ser mais moderado para conseguir governar.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>